domingo, janeiro 20, 2008

Zoológico de Buenos Aires

 

primeiro alimentamos os cervos e depois logo ao lado um cisne com comida animal  depois as cabras e depois os pôneis  e o esquilo que fugiu da jaula , depois os elefantes (quase eles caem) e os veados no final da saída  e logo depois das focas fomos ver ao show dos leões marinhos ...

primeiro: veio a luz a pequena leoa marinha que se chama luz ela é mais agil e mais legal ela pesa 30 kg e come 5kg de peixe por dia  ela dança e pede aplausos e até canta se coça , ela não anda do jeito que veem e sim se arrastando, ele pula na água com rapidez e pega os arcos em menos de 15 segundos e dá um grande pulo para alcançar a bola e dá até bananeira e dá tchau...

segundo: se chama bandido ele é um leão marinho grande que pesa 280 kg e come 30 kg de peixe por dia, ele dança como a outra mas é menos ágil, pede aplausos, ele demora cerca de 40 segundos para pegar os três arcos e se voce mandar ele mexer os pés ou os braços ele faz, se seca, dá a língua e só pula por um beijo da mulher, mas depois mesmo assim não quer e só vai por mais três peixes (que leão folgado) ele sabe assoprar o apito mas se finge de fraco, depois ele equilibra os bastao junto com a bola e a mulher tira o bastao e ele mesmo assim equilibra somente a bola e sua última apresentaçao e dar uma pirueta e pedir aplausos.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

zoológico

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como todos sabem este é o elefante... ele esta tentando alimentar-se com a tromba tentando pegar as comidas das pessoas que elas jogam                                                               120120081429 120120081430

  na foto esquerda temos a capivara que é boa para farejar e na foto direita temos a lhama e ela tem especialidade em cuspir ,hehe.

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este é o dromedário,ele é parente do camelo só que só tem uma corcunda


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e este aí é o próprio camelo,olhem suas corcundas!!!

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estes aí são os macacos tentando comer uns biscoitos,hehe.

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aqui é a queda de uma cachoeira que eles fizeram

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esse aí é o filhote de canguru,bem legais né?

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esses aí são os jacarés e a girafa mas um esta com fome e o outro com preguiça,hehe

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esses aí são os rinocerontes e o outro a zebra


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esse aí é o hipopótamo e o outro eu esqueci! :P

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este aí é o castor que fugiu da sua jaula!

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este é o cisne e os outros são flamingos!

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esta aí é a foca !

daqui a alguns dias colocaremos vídeos aguardem!

terça-feira, janeiro 08, 2008

museu

060120081397 olá, eu fui nesse museu que (como na placa diz) é proibido não tocar... é isso aí se nao tocar leva muta,diferente né?

Jean e Lucas na pracinha da Recoleta

sábado, janeiro 05, 2008

Dia de Reis

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Na Argentina é tradição as crianças deixarem comida para os três Reis Magos na noite do dia 5 para o dia 6 de janeiro, para que eles possam se recuperar da longa caminhada e obter mais forças para terminar a viagem onde seguem a estrela guia até o menino Jesus. Em troca, os três Reis Magos deixam brinquedos.
Como hoje o Jean e o Lucas "apagaram" cedo (acho que foi excesso de piscina e totó), eu (irmã deles) coloquei a comidinha pra eles. Na verdade, eu não sabia bem que tipo de comida colocar... crua ou cozida? Daí decidi colocar cozida porque imagino que os três coitados devem estar famintos e exautos da caminhada, né? Se ainda tivessem que cozinhar, ia ser complicado pra eles. Tá bem light, para não ter perigo deles se sentirem mal durante o resto da viagem.
Vamos ver amanhã de manhã que surpresa os Reis Magos terão deixado...
Que emoção! Acho que estou mais ansiosa que os meninos! :-))))

quinta-feira, janeiro 03, 2008

refrescando um pouco...

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aqui tá um calor

como o titulo ja diz e nao vou dizer nada ! :P  030120081370

el puente de las mujeres

030120081363 bom ai esta a onte das mulheres só nao concordo, porque nao constroem uma ponte dos hombres ao lado.  :P

segundo dia

030120081362 depois de ter começado o dia fomos almoçar em um lugar meio perto do mar e também perto da ponte da mujeres :P

começando o dia

030120081359 depois do almoço um pouco de diversao com a bola de ginastica da minha irma  :P

fome daquelas

020120081356 bom ... depois da viajem de aviao e de táxi todos nós chegamos com fome ...  claro né?  com aquela comida da tam nao poderia dar em outra  :p

primeira parada : táxi

020120081355 bom...  como o titulo já diz nos ficamos pouco mais que quatro horas no aviao já saimos direto para o táxi e fomos para mais 30 minutos de viajem    :)

viagem a outro país : Buenos Aires

020120081353 primeiro começamos no aeroporto de brasilia foi uma viagem boa mas muiiiiiito longa {sem falar nos atrasos mas tudo bem} :p

segunda-feira, novembro 19, 2007

pelo mundo afora

A GRÉCIA

Grego é o nome pelo qual os romanos designavam os Helenos, habitantes da Hélade que ficou conhecida como Grécia. As formas portuguesa Grécia, castelhana e italiana Grecia, francesa Grèce, inglesa Greece, são um eruditismo calcado sobre o latim Græcia (com o etnônimo respectivo grego, griego, greco, grec e greek, do latim græcus')'.

O geônimo latino se funda sobre o etnônimo, com sufixo (-ia), latim típico de nome de país ou região. O etnônimo latino é empréstimo ao grego graikós (grego), que sob a forma plural graikoí (gregos), principiou a ser episodicamente empregado em lugar do grego ΄ελληνες (helenos) somente depois de Aristóteles. Mesmo o latim Græcia, antes de designar a totalidade do país, foi usado com epítetos (Græcia Ulterior, Magna Græcia), ou no plural, Græciæ (as Grécias), quando abarcava o todo.

O todo em latim foi de início designado como Hellas, - adis, Hélade. Assim, por exemplo, em Plínio, o Velho. Em Cassiodoro já ocorre a forma latina Hellada. Esta, por sua vez, é empréstimo do gr. Hellás - ádos, que desde Ésquilo designa a totalidade da regiões habitadas pelos helenos.

A antiga Grécia Continental fazia limites com a Ilíria a norte, a leste com o Egeu, a oeste com o Mar Jónico, e a sul com o Mediterrâneo. Tinha mais de 100.000 Km². As suas montanhas, com o céu quase sempre azul e seu clima suave faziam da Grécia um dos mais maravilhosos e melhores países do mundo. Foi naquele pequeno país que a civilização ocidental começou há mais de dois mil e oitocentos anos. Naquele tempo a civilização grega estava dividida em cidades-estado que dominavam grandes áreas das margens do Mediterrâneo e do mar Negro. Atualmente, a Grécia é um unico país de poder reduzido, sendo um dos países menos desenvolvidos da Europa. Atenas é a capital e maior cidade do país, com quatro milhões de habitantes. Em Atenas e em outras partes da Grécia, existem esplêndidas ruínas de monumentos do passado glorioso da antiga civilização. Há milhares de anos, os gregos estabeleceram tradições de justiça e liberdade individual que são as bases da democracia e da economia de mercado. A sua arte, filosofia e ciência tornaram-se fundamentos do pensamento e da cultura ocidentais. Os gregos da Antigüidade chamavam a si próprios de helenos (todos que falavam o grego, mesmo que não vivessem na Grécia Continental), e davam o nome de Hélade a sua terra. Os que não falavam o grego eram chamados de bárbaros. Nunca formaram um governo central, porém estavam unidos pela mesma cultura, religião e língua. A Grécia tornou-se independente em 14 de Setembro de 1829, após o Tratado de Adrianópolis ser assinado entre Rússia e Turquia, o qual pôs fim à guerra de independência.

A Economia da Grécia é uma economia capitalista mista com grande participação das empresas governamentais tendo como principal atividade o setor de serviços. A indústria e agricultura respondem por 20% respectivamente do PIB enquanto o turismo gera 15% das receitas do país.

O PIB da Grécia é de 203,3 bilhões de dólares (2002), e seu PIB per capita (US$ 19.100) está a apenas 70% do nível dos melhores países da União Européia. A Grécia é um dos países que mais se beneficiaram da União Européia. Obteve um crescimento de 3,3% em sua economia após a união e vem obtendo taxas de crescimento na casa dos 4%, superando em 1 p.p. a média da União Europeia.

Principais produtos: Agropecuária - algodão, azeitona, cabras, fumo, hortaliças, limão, ovelhas, trigo e uva. Mineração - bauxita, linhita e cromita.Indústria - alimentos e bebidas processadas - cigarros, têxteis, vestuário

Demografia da Grécia - a Grécia tem sido habitada desde o Período Paleolítico e, por volta do ano 3.000 A.C. se tornou o lar, nas Ilhas Cícladas, de uma cultura cuja arte permanece como a mais notável da História. No início do 2o milênio A.C., a ilha de Creta foi o lar do sofisticado império marítimo dos minóicos, cujo comércio atingia o Egito e a Sicília. Os Minóicos foram derrotados pelos Micênicos, um povo da Grécia continental, que falava um antigo dialeto grego.

No princípio, o mosaico de cidades-estado gregas tinha semelhanças étnicas. Durante os impérios romano, bizantino e otomano (abrangendo todo o período que vai do século I ao século XIX) a composição étnica da Grécia diversificou-se. Desde a independência, em 1829 e da troca de populações com a Turquia em 1923, a Grécia forjou um estado nacional que reclama suas origens há 3 mil anos.

A língua grega remonta há 3.500 anos, e o grego moderno preserva muitos elementos de seu antecessor clássico. No século XIX, após a Guerra de Independência Grega, fez-se um esforço para eliminar da língua as expressões de origem turca e árabe. A versão resultante foi considerada próxima do koiné grego, e foi chamada de Katharevoussa. No entanto, o Katharevoussa nunca foi adotado pelos gregos na linguagem diária. O grego comumente falado é chamado demokiti, e se tornou a língua oficial em 1976. A Grécia tem uma população de aproximadamente 10 milhões de habitantes, 98% são de origem grega. Sua população apresenta crescimento de 0,3% ao ano. A taxa de analfabetismo é 2,8% e a renda per capita é US$ 19.100.

Os remanescentes físicos da cultura da Grécia clássica conservam-se principalmente em Atenas,Esparta, Micenas, Argos e outros sítios, enquanto as esculturas e outros objetos de arte exibidos nos museus gregos (Nacional, de Heracléia, da Acrópole, etc.), e dos principais centros culturais do mundo constituem uma lembrança permanente de copiosa herança cultural helênica, que ainda continua viva na educação dos gregos. Na Grécia moderna destacaram-se sobretudo os poetas. Adquiriu fama internacional Konstantinos Kaváfis, grego de Alexandria que escreveu cerca de duas centenas de poemas, inéditos até sua morte. Comparado ao português Fernando Pessoa, seu contemporâneo e também marcado por uma nostalgia da antiga glória de seu país, Kaváfis é autor da frase "somos todos gregos". Destacam-se também Georgios Seferis, agraciado com o Prêmio Nobel de literatura de 1963; Angelos Sikelianos; Odysseus Elytis, que obteve o prêmio Nobel em 1979; e Yannis Ritsos. O romancista de maior sucesso é o cretense Nikos Kazantakis, autor de Zorba, o grego e A última tentação de Cristo. Dentre os músicos gregos com fama internacional destacam-se Manos Hadjidakis e Mikis Theodorakis. A busca e a sistematização do patrimônio musical popular, que é o objetivo básico de famosos músicos e pesquisadores, tem incentivado a criação de grande número de corais que participam de concursos internacionais. Depois da independência política, a arte grega se inspirou inteiramente na arte ocidental. Entre os pintores figurativos destacam-se Iannis Moralis e Nicos Kontopulos; e entre os abstratos, Alexos Kontopulos e Iannis Spyrapulos. Na escultura devem ser mencionados Vassilakis Takis e Alex Mylona. Foi na Grécia Antiga, na cidade de Olímpia, que surgiram os Jogos Olímpicos em homenagem aos deuses. Os gregos também desenvolveram uma rica mitologia. Até os dias de hoje a mitologia grega é referência para estudos e livros. A filosofia também atingiu um desenvolvimento surpreendente, principalmente em Atenas, no século V ( Período Clássico da Grécia). Platão e Sócrates são os filósofos mais conhecidos deste período.

A arte e a arquitetura das sociedades gregas desde o início da Idade do Ferro (século XI a.C.) até o final do século I a.C. Antes disso (Idade do Bronze), a arte grega do continente e das ilhas (excetuando-se Creta, onde havia uma tradição diferente chamada arte minóica) é conhecida como arte micênica, e a arte grega mais tardia, chamada helenística, é considerada integrante da cultura do Império Romano (arte romana).

Os gregos, inicialmente um conjunto de tribos relativamente autônomas que apresentavam fatores culturais comuns, como a língua e a religião, instalaram-se no Peloponeso nos inícios do primeiro milênio antes de Cristo, dando início a uma das mais influentes culturas da Antiguidade.

Após a fase orientalizante (de 1100 a 650 a.C.), cujas manifestações artísticas foram inspiradas pela cultura mesopotâmica, a arte grega conheceu um primeiro momento de maturidade durante o período arcaico, que se prolongou até 475 a.C. Marcado pela expansão geográfica, pelo desenvolvimento econômico e pelo incremento das relações internacionais, assistiu-se nesta altura à definição dos fundamentos estéticos e formais que caracterizarão as posteriores produções artísticas gregas.

Após as guerras com os Persas, a arte grega adquiriu maior independência em relação às outras culturas mediterrânicas e expandiu-se para todas as suas colônias da Ásia Menor, da Sicília e de Itália (conjunto de territórios conhecidos por Magna Grécia).

Protagonizado pela cidade de Atenas, sob o forte patrocínio de Péricles, o último período artístico da Grécia, conhecido por Fase Clássica, estendeu-se desde 475 a.C. até 323 a.C., ano em que o macedônico Alexandre Magno conquistou as cidades-estados do Peloponeso.

As manifestações artísticas gregas, que conheceram grande unidade ideológica e morfológica, encontraram os seus alicerces numa filosofia antropocêntrica de sentido racionalista que inspirou as duas características fundamentais deste estilo: por um lado a dimensão humana e o interesse pela representação do homem e, por outro, a tendência para o idealismo traduzido na adoção de cânones ou regras fixas (análogas às leis da natureza) que definiam sistemas de proporções e de relações formais para todas as produções artísticas, desde a arquitetura à escultura.

vaso grego


A ITÁLIA

Aníbal (247 a.C.183 a.C.) foi um general cartaginês e destacado tático e líder militar, filho de Amílcar Barca. Ficou conhecido pelo seu desempenho na segunda guerra púnica contra a República de Roma.

Aníbal cresceu na atual Península Ibérica e, segundo a lenda o pai fê-lo jurar, aos 10 anos, diante do altar do deus Melcarte (Hércules ou Héracles), que nunca seria amigo dos romanos. "Segurando uma das minhas mãos, ele me conduziu ao altar de Melcarte. Pediu para que eu jurasse jamais ser amigo dos romanos", teria dito o príncipe, segundo relata o historiador romano Tito Lívio.

Acompanhou seu pai Amílcar à Hispânia (237 a.C.) e ajudou-o a lá estabelecer uma província. Quando Amílcar morreu, em 229 a.C., o império cartaginês na Hispânia havia dobrado de extensão.

Anibal assume o governo da Hispânia

A primeira tarefa de Aníbal ao assumir o comando na Hispânia foi aumentar e consolidar os ganhos territoriais alcançados por seu cunhado Asdrúbal e por seu pai. Enquanto não sentisse a influência cartaginesa seguramente estabelecida na área sul do Ebro, não poderia embarcar no grande plano que sempre estivera em sua mente (se não o herdara). Até o momento, não estava preparado para a guerra com Roma. Suas atribulações durante o primeiro ano, dominando membros de tribos na região do Tejo de modo a garantir a linha de rio na retaguarda, devem ter servido para acalmar as suspeitas dos romanos sobre suas intenções, ou convencê-los de que tinha problemas suficientes para resolver na própria Hispânia. No ano seguinte, 220 a. C., ele se deslocou mais para o norte novamente e capturou Salamanca.

Uma antecipação da brilhante utilização que Aníbal faria de sua cavalaria foi apresentada na luta contra a massa resultante da combinação de duas tribos no Tejo, ocasião em que ele mostrou como uma força inimiga valente e muito maior pode ser confundida por uma travessia noturna. Aníbal sempre demonstrou um apreço por ser comandante de cavalaria que seus inimigos jamais tiveram; ao mesmo tempo, ele não cometia o erro de pensar que tudo poderia ser feito apenas pêlos cavaleiros. Sabia que sua contundente e súbita arremetida devia ser sempre reforçada, e definitivamente fortalecida, por um sólido núcleo da disciplinada infantaria.

A cavalaria que utilizou na Hispânia, e mais tarde na Gália e Itália, consistia de duas unidades básicas, ainda encontradas séculos mais tarde — a brigada pesada e a brigada ligeira. A brigada pesada era composta por celtiberos, e mais tarde por gauleses, montando os vigorosos cavalos do país, e tendo como armas uma lança curta que podia ser usada como uma azagaia e uma espada de dois gumes, levemente curvada, de modo a poder servir tanto para cortar quanto para perfurar. A brigada ligeira era formada pêlos cavaleiros númidas da África do Norte. Eles eram aparentados àqueles cavaleiros árabes que iriam infligir tantas perdas às Cruzadas muitos séculos mais tarde.

Montados em pequenos e resistentes cavalos, portando armamentos leves, acostumados de igual maneira às montanhas e aos desertos, eles eram utilizados para assediar o inimigo e, então, recuar, criando entre os soldados de infantaria adversários um estado de confusão de que se aproveitaria a brigada pesada. Outra arma que se mostraria desconcertante para os romanos eram os famosos fundibulários baleárides (os quais Roma iria mais tarde incorporar aos seus próprios exércitos). Estes consistiam de um grupo de "Davis", arremessando pedras arredondadas ou projéteis de chumbo, abrindo fogo nos primeiros momentos de um conflito, recuando depois para se unirem à infantaria ligeira antes que o combate principal tivesse lugar. O corpo principal da infantaria, proveniente de Cartago, da Líbia e, agora, da Hispânia, era fortemente armado à maneira dos gregos, com grandes escudos, peitoris, elmos, grevas, espadas cortantes para ação próxima e longas lanças para o primeiro embate. Após sofrer uma série de derrotas durante um desembarque romano na África do Norte, na Primeira Guerra Púnica, o exército cartaginês fora completamente reorganizado por Xantipo, comandante espartano. Ele introduziu a disciplinada ordem da falange, que havia triunfado sobre quase todo o leste nas campanhas de Alexandre, o Grande. Na falange, os homens se colocavam ombro a ombro, com o lado direito de cada homem coberto pelo escudo do seu vizinho, apresentando assim uma espinhosa parede de longas lanças ao inimigo. Admirável para utilização em campo aberto e contra um inimigo indisciplinado, a falange tinha a desvantagem de ser, de certa forma, desajeitada. Aníbal em breve aprenderia dos romanos a utilizar unidades táticas mais ágeis, assim como também a adotar o uso de armas romanas, especialmente a espada dos legionários, no lugar das espadas cortantes de iberos e gauleses. A grande arma cartaginesa, novidade para a Europa, embora muito familiar no leste, era o elefante — há tanto tempo incorporado à lenda de Aníbal que deve ser separadamente descrito no relato de sua grande invasão.

"... Desde o dia em que foi proclamado comandante-em-chefe", escreveu Políbio, "visto que a Itália lhe fora designada como seu campo de operações e ele tinha sido instruído para fazer guerra contra Roma, Aníbal sentiu que não podia permitir mais nenhum adiamento, a fim de não ser também, como seu pai Amílcar e depois Asdrúbal, surpreendido, enquanto protelasse, por algum acidente, e resolveu atacar o povo de Sagunto". Seu ato foi, provavelmente, forçado pela evidência de que os romanos tramavam uma nova traição na Hispânia; nova porque recentemente a atenção deles concentrava-se no norte da Itália, onde os gauleses cisalpinos, instalados no lado italiano dos Alpes, tinham se deslocado para o sul e devastado a Étrúria. Este valente porém indisciplinado inimigo havia prosseguido derrotando um exército romano — notícias que devem ter estimulado Aníbal — e ameaçando a própria cidade. Até que Roma os tivesse dominado e estabelecido colónias na região (instalando as fundações de uma nova província, a Gália Cisalpina), os romanos estiveram distraídos demais para prestar muita atenção aos eventos na Hispânia. Mas os informes dos primeiros dois anos do comando de Aníbal vindos de Massala e, sem dúvida, de Sagunto, haviam renovado sua preocupação com a ameaça cartaginesa a partir do oeste. Eles tinham a exata noção de que Sagunto, localizando-se a meio caminho entre o Ebro e o novo porto cartaginês e capital de Nova Cartago, poderia servir como uma possível cabeça-de-ponte na eventualidade de alguma operação contra os cartagineses. Suas estreitas ligações com Massala e o fato de que os romanos detinham o controle do Mar Mediterrâneo ocidental significava que Roma poderia manter relações de boa camaradagem com Sagunto.


Foi provavelmente não muito tempo após o acordo com Asdrúbal, o Belo, sobre a definição de esferas de influência que os romanos iniciaram um relacionamento diplomático com Sagunto, baseados em sua aliança com Massala. Haviam, com isso, fincado um pé às portas da cidade, e cerca de dois anos depois tirariam vantagem de uma disputa política em Sagunto para se posicionarem como árbitros da questão. O fato de estarem interferindo em assuntos políticos bem ao sul da linha do Ebro não parece tê-los preocupado. Tal atitude seguiu o mesmo padrão de interferência anterior na Sicília, que havia precipitado a Primeira Guerra Púnica. Essa "interferência benevolente" era uma técnica que os romanos frequentemente empregariam nos séculos que estavam por vir: técnica que as potências expansionistas sempre utilizaram para provocar um conflito ou expandir seu território. O resultado inevitável da intervenção romana na política de Sagunto foi que um partido favorável a Roma tomou o poder na cidade. Aníbal, após dispersar suas tropas no final do ano 220, passara o inverno em Nova Cartago. Era preciso muito cuidado, pois dificilmente poderia ser ignorado o fato de que Sagunto representava, para todos os propósitos e intentos, uma estaca romana fincada em território cartaginês. O que quer que os romanos dissessem para justificar um tratado com o partido no poder em Sagunto, garantindo a eles a proteção romana, não estaria mencionado no tratado original, assinado com Asdrúbal, que não mencionara Sagunto como um caso especial — e no interior da esfera romana de influência. Aníbal nunca tivera qualquer motivo para acreditar que a palavra romana merecesse confiança, e não havia qualquer razão para fazê-lo agora. Não precisava de justificativas para os passos que estava por dar.

Ao longo daquele inverno, em companhia de seu irmão Asdrúbal, que se havia unido a ele (é possível que seu irmão mais novo, Magão, também tivesse deixado Cartago rumo ao novo lar da família), Aníbal expôs seus planos. "A ninhada do leão” , como os irmãos eram conhecidos por todo o exército, preparava-se para a mais audaciosa ação militar da história — nada menos que a invasão da cidade natal de seus inimigos por meio da atemorizante e até então nunca utilizada rota sobre os Alpes. É verdade que os gauleses muito haviam utilizado os desfiladeiros alpinos para se dirigirem à Itália, mas tratava-se de migração de clãs ou tribos. Ninguém jamais havia concebido que todo um exército pudesse se deslocar do oeste, através dos desfiladeiros, rumo à Itália. Antes da chegada dos cartagineses à Europa, não houve qualquer inteligência que coordenasse e avaliasse a possibilidade da ação, e, de fato, nem motivo para isso. É claro que Aníbal possuía seu serviço de inteligência, preparado tanto na Gália ao norte ; quanto na Gália Cisalpina na Itália, entre esse povo violento, porém amante da liberdade, que se ressentiu do jugo romano tanto quanto Amílcar do tratamento dado a Cartago; desse modo, enquanto o povo de Massala e Sagunto ia mantendo Roma informada das atividades cartaginesas na Hispânia, Aníbal recebia missões militares das Gálias. Ele e sua equipe conferiam todos os relatos que chegavam dando conta de números e intenções, as relações entre uma tribo e outra e sua disposição para com Roma. Ele tinha fartas evidências da capacidade de luta daqueles povos (temíveis, porém indisciplinados), mas também precisava saber quão profunda era a sua inimizade ou ressentimento para com Roma, e qual a ameaça à liberdade deles. As tribos que estavam na Itália tinham razões suficientes para temerem as armas romanas, e odiavam os romanos por causa de seus recentes atos. Do lado francês dos Alpes, a situação era mais difícil de se avaliar. Embora alguns dos chefes tribais pudessem vislumbrar a ameaça vinda de Roma — com tropas sendo transportadas da Itália para Massala e daí se espalhando para tomar todo o continente ao norte — outros não conseguiam ter a mesma suspeita, ou não compreendiam tão grande ameaça. Os muitos gauleses que viviam na região do vale do Ródano estavam perfeitamente cientes de que Roma ficava bem longe, mas o vizinho com quem se encontravam em desavença permanecia ao alcance da mão. Aníbal precisava saber que pagamento ou que ideia de saque poderia induzi-los a se unirem a ele contra os romanos, e tinha de ser informado sobre o quanto de suprimentos e de homens seria possível encontrar nas regiões através das quais ele iria passar.

Algumas das tribos do lado ocidental dos Alpes tinham se unido aos boios e ínsubres na Itália, em sua revolta alguns anos atrás, e Aníbal sabia que o sucesso inicial os levara bem para o sul, até a Etrúria — apenas para serem logo derrotados pelas armas e pela disciplina romanas. O fato de membros de tribos selvagens terem conseguido tanto foi provavelmente um estímulo a mais para um homem decidido a realizar o que, para alguns, parecia impossível. Aníbal estava bem-informado; além disso, para sua sorte, o trânsito regular dos gauleses entre Itália e Gália continuava a mante-lo atualizado sobre o exato estado de coisas na terra de seus inimigos. Em 219, Aníbal deu o primeiro passo para a guerra e atacou Sagunto. A velha cidade era forte, bem defendida e cercada pelas muralhas ciclópicas; seus habitantes estavam longe de entregar-se apenas ante a visão de um exército acampado próximo a seus muros. Antecipando-se aos movimentos de Aníbal, cujos preparativos dificilmente poderiam passar desapercebidos, dois enviados romanos dirigiram-se a ele com a mensagem de que a cidade estava sob proteção romana. Disso Aníbal sabia, mas era possível alegar que o fato não tinha sido mencionado no tratado com Asdrúbal, e que os romanos se envolveram em assuntos pertinentes à região ao sul do Ebbro. Os enviados, friamente dispensados, seguiram rumo a Cartago, onde esperavam convencer o partido da paz que Aníbal havia quebrado o acordo e que o Senado em Roma ameaçava declarar guerra. Enquanto isso, o cerco a Sagunto continuava; a cidade, que resistira bravamente por oito meses inteiros, caiu afinal, em meio aos inevitáveis massacres e saques que se seguiam ao desfecho de um cerco encarniçado e demorado. Uma grande porção da pilhagem foi colocada à parte para ser enviada a Cartago como uma prenda das riquezas de mais uma conquista. As notícias de Sagunto chegaram a Roma quase ao mesmo tempo em que seus enviados retornavam de Cartago, trazendo a mensagem de que os cartagineses não respeitariam qualquer tratado entre Roma e Sagunto. Seguiu-se, então, um confuso debate em Roma, com alguns dos nobres pedindo a guerra imediata e outros favoráveis a negociações, enquanto as assembleias populares votavam pela paz. Um acordo foi finalmente alcançado e uma delegação enviada à África do Norte PARA descobrir se Aníbal tinha agido por sua própria iniciativa no episódio de Sagunto, ou se seguia ordens dos cartagineses. Se estes desaprovassem a atitude de Aníbal, então ele deveria ser entregue às autoridades romanas. Muita discussão se seguiu; os cartagineses negaram que Aníbal tivesse cometido qualquer ofensa contra Roma e sustentaram não Niiber de qualquer tratado de aliança entre Roma e Sagunto, a qual, ademais, ficava bem no Interior da esfera de influência cartaginesa. Em conclusão, eles se recusaram a entregar Aníbal, perguntando então aos enviados romanos qual seria sua intenção. Fábio, o líder da delegação, levou a mão à toga num gesto melodramático e pediu que eles escolhessem: "Paz ou guerra?". Após consultar o Senado, o mais velho dos dois sufetes cartagineses (os lulministradores e juizes mais antigos) disse aos romanos que eles próprios tomassem a decisão.

Quando Fábio disse "Guerra", os cartagineses responderam "Aceitamos!". A Segunda Guerra Púnica, a guerra anibálica, como viria a ser conhecida, havia sido declarada. As notícias de que Cartago estava oficialmente em guerra com Roma alcançaram Aníbal quando ele voltava a Nova Cartago. Acabando de sair de uma campanha vitoriosa, com léus homens bem pagos e abrigados em seus quartéis de inverno, era um conforto saber que Cartago confirmava seu apoio a ele. Não foi difícil despertar entusiasmo entre as tropas para uma longa e arriscada expedição (embora haja dúvidas de que ele lhes tenha informado qual seria seu verdadeiro destino), pois as notícias de que os arrogantes romanos haviam exigido a rendição de seu general eram suficientes para enfurecê-los, e muito os motivava a promessa de novos saques. O passado de vitórias de Amílcar e Asdrúbal, o Belo, e a infinita promessa representada por este jovem leão cartaginês tornou o recrutamento fácil. A ideia de uma campanha iniciando-se no ano novo de 218 era tão atrativa quanto a própria chegada da primavera. O fato de Roma ter sido incapaz de salvar Sagunto reduzira sua reputação a tal ponto que uma missão romana ao norte da Hispânia foi ofensivamente despachada de volta à Gália. Aqui eles encontraram pouca ou nenhuma amizade. Os gauleses estavam determinados, no caso de qualquer conflito entre Roma e Cartago, a permanecer neutros, mas, sabedores do tratamento recebido por seus parentes na Itália, estariam inclinados a apoiar os cartagineses.

Aníbal se prepara para Atacar Roma

Aníbal sabia disso tudo e sabia também que a desconsolada missão romana havia retornado a Roma com as notícias de que a Hispânia estava hostil, os gauleses neutros mas inamistosos e somente o povo de Massala apoiava firmemente sua causa. Quando os dois novos cônsules foram escolhidos para o ano, o mais ativo deles, Públio Cornélio Cipião, foi incumbido de considerar a Hispânia como sua "província" — sempre a intenção romana a longo prazo. Chegou aos ouvidos de Aníbal durante o inverno que Roma estava desenvolvendo uma nova frota, e isso, seguido da nomeação de Cipião, confirmara sua suspeita de que o inimigo tinha os olhos voltados para a Península Ibérica. O sítio e a pilhagem de Sagunto, que eles proclamavam sua aliada, era algo que não poderia ser tolerado, sob a pena de obscurecer por completo sua reputação, tanto entre os gauleses quanto entre os iberos. Os romanos dominavam o mar — tendo Aníbal pouco mais do que alguns navios de guerra para a proteção imediata da navegação entre a Península Ibérica e a África do Norte — e um desembarque das legiões na Península Ibérica era agora esperado. Asdrúbal recebeu instruções de seu irmão para assumir o comando na Hispânia caso Aníbal se ausentasse em algum momento durante um ataque romano.

Desse modo, o plano principal de Aníbal parecia produzir frutos. O inimigo, ciente de sua supremacia no mar, evidentemente se preparava para transportar suas legiões, via Massala, para uma invasão dos territórios de Nova Cartago ao sul do Ebro. Mas o que os romanos sequer poderiam imaginar era que Aníbal não se preparava para defender seus novos territórios, nem planejava meramente cruzar o rio para prosseguir com sua campanha ao norte. Os próprios romanos jamais considerariam a hipótese de atravessar os assombrosos Pireneus, as desconhecidas terras dos selvagens gauleses e ainda os temíveis Alpes, para finalmente atacar seus inimigos. Tal jornada implicaria nada menos do que quinze centenas de milhas de louca audácia... Porém, eles não contavam com os cartagineses.

Aníbal tinha agora a sua guerra — e nos seus próprios termos. Conseguiu que a maior parte da Espanha ao sul do Ebro se unisse a ele, que seu irmão comandasse a forte e nova cidade-porto e ainda conseguiu todos os homens de que precisava para o seu exército. Devido à sua estratégia política, a guerra havia sido declarada pêlos romanos, que seriam vistos como causadores do rompimento do tratado com Cartago. Isso nã_o tinha pouca importância, pois poderia ser mostrado às hesitantes tribos gaulesas como um exemplo da falta de palavra de Roma — e um lembrete para que eles nunca dessem crédito a Roma em tratados futuros. Manobrados por Aníbal, como freqüentemente seriam tanto em termos políticos quanto militares, não é de surpreender que nos anos vindouros os romanos cunhassem a expressão "fé púnica" para designar descrédito e quebra de palavra — algo de que eles próprios estavam cientes de ser grandemente culpados. Sabiam que sua atitude para com a Sardenha não fora correta e também estavam, ou assim parecia, errados na sua postura quanto a Sagunto.

Aníbal havia disposto cuidadosamente suas tropas para salvaguardar tanto a África quanto a Península Ibérica, e para assegurar-se de que seu irmão Asdrúbal não enfrentaria problemas de lealdade enquanto ele estivesse distante. Ele adotou a sábia política de transferir tropas iberas para a África e tropas africanas para a Península Ibérica. Políbio pode ser considerado uma acurada autoridade na descrição do estadox do tabuleiro de xadrez militar ao início da campanha: "As tropas que rumaram para a África eram formadas pêlos tersitas, mastianos, oretanos e ólcades, e somavam doze centenas de cavaleiros e treze mil, oitocentos e cinquenta soldados de infantaria, ao lado dos quais estavam oitocentos e setenta baleárides (fundibulários). (...) Ele estacionou a maioria dessas tropas em Metagônia, na Líbia, e algumas na própria Cartago. Das assim chamadas cidades metagonitas ele enviou quatro mil soldados de infantaria a Cartago, a título de reforço e de garantia. Na Hispânia, deixou quinze mil homens, vinte e um elefantes e uma pequena frota de aproximadamente cinquenta navios de guerra. Como evidência para documentação das medidas de Aníbal, Políbio conclui: "A ninguém deve surpreender a exatidão das informações que aqui forneço sobre os preparativos de Aníbal na Hispânia (...) O fato é que eu encontrei no Promontório Lacínio (no sul da Itália) uma placa de bronze na qual o próprio Aníbal fez essas anotações durante o tempo em que esteve na Itália, e julgando ser este um achado de magnífica autoridade, decidi seguir o documento."

Na primavera de 218, tendo anteriormente deixado tudo em ordem, Aníbal deslocou suas próprias tropas dos quartéis de inverno. Ele voltou-se para o norte e cruzou o Ebro. No início da campanha, seu exército somava doze mil cavaleiros e noventa mil soldados de infantaria. Na Catalunha, entre o Ebro e os Pireneus, eles depararam com resistentes tribos das montanhas, que não estavam dispostas a render-se mesmo ante tão grande exército. Sua passagem foi fortemente impedida, e muitas aldeias precisaram ser arrasadas antes que eles conseguissem atingir os Pireneus, "após muitos combates severos e com grandes perdas". Talvez Aníbal não esperasse tão rígida resistência. Contudo, fica claro que ele havia partido com uma força maior do que a pretendida para sua campanha italiana, haja vista que deixara encarregados do novo território e de manter guarda sobre os desfiladeiros entre a Península Ibérica e a Gália mil cavaleiros e dez mil soldados de infantaria, sob o comando de seu irmão Hanão.

Contornando o porto grego de Empório (Ampúrias), Aníbal conduziu o exército em direção aos Pireneus. Políbio, o mais confiável guia dos acontecimentos da grande marcha de Aníbal, diz, a certa altura, que ele partiu no início do verão — infelizmente, não se sabe se fazia referência à partida de Cartagena ou à travessia do Ebro. Denis Proctor (Hannibal's March in History) comenta: "A primeira parte da marcha de Aníbal, de Cartagena ao Ebro, uma distância de aproximadamente quatrocentos e oitenta quilómetros por terra sob controle cartaginês, teria sido completada em menos de quatro semanas; com isso, a totalidade da jornada poderia ser descrita como sendo 'no princípio do verão', e uma vez que com certeza não houve, após Aníbal ter exposto seu plano de campanha às tropas, qualquer demora mais prolongada do que o necessário à conclusão das preparações finais para a marcha, não há inconsistência em datar seu pronunciamento aos soldados no fim da primavera e a marcha de Cartagena para o Ebro no início do verão".

Quaisquer que sejam as conclusões sobre o momento em que Aníbal empreendeu os primeiros movimentos de sua campanha - através do Ebro e rumo aos Pireneus — ficou claro que se subestimou o tempo necessário para alcançar os Alpes, que ele atingiu naquele ano, mais tarde do que poderia ter pretendido. Aníbal possuía em abundância informações sobre os Alpes e seus desfiladeiros e jamais duvidaria de que a época ideal para transpô-los fosse o verão. Como não o fez, pode-se atribuir isso a uma partida tardia (bem possível, em vista da dificuldade de garantir que as tropas viessem de seus quartéis de origem no tempo requerido), embora outra causa provável de seu atraso tenha sido subestimar a capacidade de resistência dos membros de tribos ao norte do Ebro.

Uma vez que os Pireneus despontaram à sua frente, resta pouca dúvida de que o destino final do exército foi revelado a todos, embora já devesse ser um segredo conhecido pêlos oficiais graduados e comandantes de guarnições. A reação de muitos da tropa era previsível: eles não haviam encontrado cidades ricas e pilhagens fáceis na terra ao norte do Ebro; os Pireneus pareciam temíveis demais; por fim, a aterradora revelação de que rumavam para os Alpes. "Influenciados menos pela guerra do que pela longa marcha e a impossibilidade de cruzar os Alpes", três mil soldados da infantaria carpetana puseram-se a voltar. Lívio prosseguiu: "chamá-los de volta ou detê-los teria sido forçosamente arriscado, já que tal atitude poderia criar ressentimento nos corações selvagens dos demais. Então, Aníbal enviou de volta a seus lares mais sete mil, os quais estavam, segundo observou, relutantes quanto à empreitada, e fingiu ter também despachado os carpetanos".

Sua força estava, agora, grandemente reduzida em tamanho. Políbio estabelece que o exército que seguiu com ele através dos Pireneus somava apenas "cinquenta mil soldados de infantaria e nove mil cavaleiros". Isso significa que a força de infantaria, por deserção, por política e perdas em batalha, tinha sido quase cortada pela metade, e a cavalaria reduzida em um quarto. Políbio, que fora um destacado general antes de se tornar historiador militar, comenta com sabedoria prática: "Ele tinha, agora, um exército não tão forte em número, mas prestimoso e altamente treinado pela longa série de guerras na Hispânia". Aníbal bem pode ter reconhecido que, em vista das árduas campanhas que estavam por vir, seria mais proveitoso cercar-se de uma reduzida força de veteranos afiados em batalhas do que de uma milícia duas vezes maior, menos experiente e carente de determinação.

O elemento de incongruência no exército de Aníbal, e o único que tem inevitavelmente atraído a atenção de historiadores e de não-historiadores através dos tempos, eram os elefantes. Trinta e sete deles, avaliamos, seguiram com Aníbal desde a Península Ibérica, através dos Pireneus e do Ródano, sobre os Alpes, até a Itália. Não há registro de que algum deles tenha morrido durante a longa marcha, mas está escrito que, quando o grande cartaginês surgiu por entre a neve dos picos alpinos na Itália, seus elefantes ainda permaneciam com ele. Por que elefantes, quando contava com tantos cavaleiros, e, como eles viriam a provar, cavaleiros superiores àqueles que os romanos possuíam? Trezentos anos depois dos acontecimentos, o escritor satírico Juvenal relembrou Aníbal com estas palavras:

Este é o homem para quem a África Constituía um continente muito pequeno embora se estendesse das praias oceânicas do Marrocos, açoitadas pelas ondas a leste do enevoado Nilo, Até as tribos etíopes — e novo habitat dos elefantes.

A utilização de elefantes em guerra era quase tão antiga quanto a própria história da guerra no leste, embora tais animais só tivessem sido mencionados nas campanhas de Alexandre, o Grande, quando em 313 a. C. ele derrotou o rei Dario III, da Pérsia, que tinha quinze elefantes em seu exército na batalha de Gaugamela. Esses animais, treinados para a guerra, trazendo no lombo assentos (howdah) de onde os arqueiros podiam disparar contra os inimigos, eram da espécie indiana, com cerca de dez pés de altura até os ombros. A maioria dos elefantes usados pêlos cartagineses na guerra, contudo, eram africanos e não indianos; mas, como Sir Gavin de Beer assinala, não se tratava de elefantes das savanas africanas, ainda maiores que os indianos, e sim de elefantes das florestas da África, medindo pouco menos de oito pés até os ombros. Moedas cunhadas em Cartagena, aproximadamente na mesma época em que teve início a guerra anibálica descrevem esta espécie de elefantes africanos, sendo evidência disso o tamanho relativo do condutor montado no animal e as costas côncavas, as grandes orelhas e a tromba enrugada que distinguem os elefantes da floresta dos das outras duas variedades. "O tamanho relativamente pequeno do elefante da floresta", escreve Sir Gavin, "significa que eles não eram muito maiores do que cavalos, e sua passagem pelas montanhas realizou-se sem as dificuldades que a variedade indiana teria encontrado".

Seus condutores são sempre mencionados como "indianos" porque os egípcios, quando começaram a importar elefantes para trabalho e guerra, fizeram vir seus treinadores da índia, onde — ao contrário da própria África — os elefantes há muito erai utilizados em serviço do homem. Os elefantes eram empregados por Aníbal principalmente contra as cavalarias: os cavalos, não tendo sido treinados para tal confronto, ficavam aterrorizados diante de sua aparição, seu cheiro e seu barrido; o tamanho e a aparência assustadora dos elefantes punha em fuga os membros de tribos nativas. (Séculos mais tarde, durante a segunda campanha de César, na Bretanha, um elefante indiano, carregando um cesto com arqueiros a bordo, semeou o terror entre Cassivelaunos e seus bretões, e facilitou a travessia romana do Tamisa). É provável que um dos elefantes de Aníbal fosse de variedade indiana; mencionado uma única vez durante a campanha na Itália, tem o nome de Surus, o Sírio, e a Síria era a região de onde os elefantes indianos há muito eram obtidos.

"Enquanto Aníbal estava assim empenhado em cruzar os Pireneus, preocupado sobremaneira com os celtas por causa da resistência natural dos desfiladeiros", escreve Políbio, "os romanos (...) em vista das notícias, que os alcançaram mais cedo do que esperavam de ter Aníbal cruzado o Ebro com seu exército, determinaram o envio dos cônsules Públio Cornélio Cipião e Tibério Semprônio Longo com suas legiões, o primeiro para a Espanha e o segundo para a África. "A intenção romana de atacar diretamente o coração de Cartago, investindo ao mesmo tempo contra o novo império púnico no oeste, era segura demais. O que eles não esperavam era que os gauleses boios, no norte da Itália, entusiasmados pela notícia de que Aníbal estava em marcha, se rebelassem contra Roma e, conclamando seus velhos aliados, os ínsubres, para se unirem a eles, invadissem a terra que os romanos haviam cuidadosamente colonizado. Os gauleses, valendo-se de seu habitual poder de fogo e devastação, apanharam os romanos desprevenidos, obrigando-os a revisar seus planos prévios. As legiões que partiriam para a Península Ibérica não poderiam ser dispensadas até que o problema na Gália Cisalpina fosse contornado.

A invasão da África do Norte tinha de ser adiada. Os aliados gauleses, com quem Aníbal estava contando quando ele próprio surgisse sobre a linha do horizonte do norte da Itália, já haviam provado o seu valor. Roma, que contava com a derrota dos cartagineses quando atacados em sua casa na Hispânia, via agora sob ameaça seu próprio território. Enquanto isso, o exército cartaginês, provavelmente através da relativamente tranquila rota do Passo Perthus, transpunha os Pireneus.

A primeira tarefa de Aníbal consistia em ter um contato amigável com os gauleses em seu território ao norte dos Pireneus. Enviando antecipadamente embaixadores para explicarem que suas intenções eram pacíficas, ele fez os arranjos para encontrar-se com os chefes locais em Ruscinão (Castel-Roussillon). Lá ele conseguiu convencê-los de que a sua guerra era contra Roma e que seu exército estava marchando contra os inimigos da raça deles, e para auxiliar seus primos no norte da Itália. Após alguma conversação, eles aceitaram sua palavra — e seus subornos — e permitiram que ele passasse livremente por seu território. Um difícil campo de operações se estendia à sua frente: a vasta e pantanosa extensão do delta do Ródano, assombrosamente primitivo então, que só seria dominado, com muita dificuldade, dois mil anos mais tarde. Era, com certeza, estranho para essas tropas espanholas e norte-africanas, acostumadas com montanhas, extensas savanas e a vastidão do deserto, mas não com um selvagem mundo aquático.

Os dois cônsules da Itália, quando acontecia o solstício de verão, tinham sido liberados de sua atuação na revolta do norte e retornaram a seus projetos originais—Tibério Semprônio fazendo extravagantes preparativos na Sicília para a invasão da África do Norte e Públio Cornélio Cipião cuidando do embarque de tropas para a viagem costeira a Massala. Se Aníbal estava atrasado em sua marcha, igualmente estavam os cônsules. Cipião, tendo partido da Itália com sessenta navios de guerra, alcançou Massala cinco dias após deixar Pisa e montou acampamento na foz do Ródano, perto da cidade. Nesse ponto, chegou a ele a informação de que Aníbal estava quase cruzando os Pireneus; mas, confiante de que as dificuldades do terreno e a hostilidade dos gauleses contribuiriam para retardar muito o seu progresso, o cônsul não acreditou que fossem necessárias medidas urgentes. Seus homens e cavalos necessitavam de um descanso após a viagem marítima e ele só poderia imaginar que Aníbal estava empenhado em provocar conflitos com os gauleses — possivelmente tendo Massala como alvo, tão logo reunisse forças suficientes para isso. "Aníbal, contudo, que subornara alguns dos celtas e forçara outros a lhe dar passagem, inesperadamente surgiu com seu exército na travessia do Ródano (...)"

A velocidade no avanço de Aníbal parece ter atingido uma média de aproximadamente quatorze quilômetros por dia. De acordo com Políbio, ele se deteve antes de fazer a travessia o Ródano, aproximadamente quatro dias de marcha longe do mar. Terríveis cinqüenta milhas de solo pantanoso e estuário de rio separavam Políbio de Aníbal, mas tão precárias eram as comunicações na região que os cartagineses moveram o seu exército de cinquenta mil homens e mais a cavalaria e os elefantes para um local de travessia adequado, antes que quaisquer notícias atingissem o cônsul em Massala. As forças de Aníbal chegaram, então, a uma região habitada pela tribo volca, que parecia estar no comando de ambas as margens do Ródano e, com certeza, subsistia quase que exclusivamente do transporte de gêneros e pessoas de um lado a outro. Os volcas que estavam na margem ocidental, de modo algum capazes de abandonar seus lares e atividades de construção de barcos, nem ao menos dispostos a isso, trataram de providenciar os meios para o transporte de Aníbal. Mas a maioria da tribo, entendendo que a chegada do enorme exército estrangeiro era uma ameaça à sua liberdade, havia se reunido na margem oriental e, utilizando o Ródano como seu fosso, preparavam-se para lhes dar combate. A uma distância de quatro dias de marcha do mar, como relata Políbio, "o rio é inteiro". A aproximadamente sessenta quilômetros ficava Furques (Fourques), onde o rio era, com certeza, inteiro, largo e fluía mansamente naquele dia (embora o Ródano tenha mudado consideravelmente desde a construção do grande dique em Donzères) e, muito provavelmente, a julgar pela terra ao seu redor, havia se aproximado suavemente das margens ocidentais.

E possível que ecos de Sósilo (o professor grego de Aníbal), que mais tarde escreveu sobre sua vida, ou de outro grego, Silenos, que o acompanhou na marcha e cujo relato foi traduzido para o latim, possam ser encontrados em Políbio. Certamente há uma nota de testemunho ocular em algumas passagens que descrevem a travessia do Ródano:

Esforçando-se para fazer amigos junto aos habitantes da margem, comprou-lhes todas as canoas e barcos — uma quantidade considerável, pois a maioria das pessoas das margens do Ródano ocupavam-se do transporte marítimo. Ele também adquiriu deles toras apropriadas para construir canoas, de forma que em dois dias já possuía um grande número de balsas, pois cada um se esforçava por prestar alguma assistência e contava com seu próprio desempenho para ter a oportunidade de realizar a travessia.

Enquanto isso, uma grande quantidade de gauleses havia se reunido na margem oposta; estava claro que seu exército nunca conseguiria desembarcar perante tão determinada oposição. O problema de se transportar cinqüenta mil homens de infantaria e nove mil cavaleiros com suas montarias — sem mencionar os trinta e sete elefantes — deve ter sido desencorajador por si só, mas fazê-lo diante de uma força hostil seria quase impossível. Na terceira noite, tendo cuidadosamente avaliado a situação, Aníbal chamou Hanão, companheiro nobre e filho do sufete Bomílcar, e o colocou no comando de parte do exército. Essa parte das formidável rio após vários dias nas terras do delta, estranhas e assustadoras para eles. Agora, estavam diante dos misteriosos e atemorizantes Alpes. Dificilmente causaria surpresa que um exército constituído de tantas raças — sem contar as tribos — se sentisse dividido e inseguro. Aníbal utilizou a presença desses boios, e em particular de um chefe tribal, Mágilos, talvez o mais respeitado deles, para mostrar que os Alpes estavam longe de ser insuperáveis: aqueles homens haviam vindo da Itália justamente através dos desfiladeiros. Eles também não precisavam temer os romanos, já que homens como esses os tinham frequentemente derrotado. (Aníbal deve ter confiado em que atingira o ponto: "Vocês acabaram de derrotar uma grande quantidade de gauleses, e, se os gauleses podem derrotar os romanos, a quem vocês deveriam temer?").

Tanto Políbio quanto Lívio (e, é claro, todos os historiadores subsequentes) têm retrata-do Aníbal, nessa e em outras ocasiões, dirigindo-se ao exército em assembleia na retórica tão cara ao coração clássico. Mas, deve-se perguntar, em que linguagem ou dialeto estaria ele falando? Aníbal, desde a infância, foi familiarizado com o semita púnico (do qual algumas palavras ainda podem ser encontradas no Líbano e na Ilha de Malta); sua segunda língua fora o grego; é quase certo que sua terceira fosse a língua falada pelas tribos espanholas ao sul do Ebro, e a quarta língua foi o latim. Ele possuía uma mente rápida e ágil, e indubitavelmente dominava um pouco o gaulês básico (novamente, diferentes dialetos). Deve-se imaginar que nessa e em outras ocasiões similares ele se utilizou de intérpretes de modo a ter sua mensagem captada pelas tropas em assembleia. Ao mesmo tempo, ele, o general, falando pessoalmente a todos, consistia em um detalhe muito necessário à manutenção do comando sobre sua força multirracial — Aníbal, o cunhado de Asdrúbal, o filho do grande Amílcar, o vencedor em Sagunto, o seu líder (...) Uma vez que seus oficiais superiores eram cartagineses, e uma vez que o coração do próprio exército era composto de cartagineses e líbios (esses, por necessidade, tiveram que aprender a linguagem de seus conquistadores), é muito provável que tivesse utilizado o púnico. Deve ter soado um pouco como o árabe que ainda seria ouvido na Líbia e Tunísia.

"[Ele] começou por relembrar-lhes suas façanhas no passado: ainda que, disse ele, tivessem empreendido muitas aventuras arriscadas e lutado muitas batalhas, nunca haviam obtido maus resultados quando seguiram seus planos e conselhos. Em seguida, pediu-lhes que considerassem, com boa vontade, que a pior parte de sua tarefa já tinha sido completaa, pois eles haviam forçado a passagem pelo rio e, com seus próprios ouvidos e olhos, testemunharam os sentimentos de amizade e disposição em ajudar por parte de seus aliados (...)" Cabia a ele — e eles conheciam o seu valor — cuidar dos detalhes. O que se requeria deles era obediência às ordens e que se mostrassem homens valentes. Não devia haver mais demoras. Eles levantariam acampamento pela manhã e iniciariam a grande marcha.

O retorno dos cavaleiros númidas teria sido suficiente para confirmar a pressa de Aníbal. Em sua jornada de reconhecimento, eles haviam encontrado uma força de trezentos cavaleiros de Cipião, enviados numa missão similar. Após esse feroz encontro, os númidas, que se saíram muito mal, bateram em retirada com os romanos no seu encalço. É digno de nota que foi esta a única vez, ao que parece, que os númidas levaram a pior, e pode-se supor que combateram com a cavalaria pesada do inimigo — arma contra a qual não foram tropas era formada, na sua maioria, por espanhóis, escolhidos por serem os melhores nadadores. Sua tarefa seria atravessar o Ródano em algum ponto adequado a norte e ficar escondidos.

"Avançando na margem do rio por duzentos estádios (cerca de trinta e cinco quilômetros) eles chegaram a um local no qual o rio se divide, formando uma ilha, e aí pararam". Eles utilizaram madeira já preparada e construíram jangadas, com as quais atravessaram a salvo. Não houve oposição, pois os gauleses, demasiado preocupados com o exército que estava à sua frente rio abaixo, tinham deixado de postar qualquer sentinela ou guarda além do seu acampamento (como Aníbal, sem dúvida, já havia descoberto, os gauleses eram valentes em batalha, porém despreparados mesmo para os rudimentos das disciplinas de guerra). Políbio prossegue: "Ocupando um local de certa resistência natural, eles permaneceram lá pelo resto do dia a fim de descansar após os seus esforços e, ao mesmo tempo, preparar-se para os movimentos que lhes fora ordenado executar".

Aníbal havia calculado que, na manhã do sexto dia, o exército estaria pronto, no local da travessia. A quinta noite, por isso, foi dedicada à preparação dos barcos para o assalto. Sua atenção aos detalhes desse desembarque anfíbio explica-se pelo fato de que, embora o transporte tenha sido rapidamente realizado, em grande parte no próprio local e sob a vista do inimigo, não havia chance de a travessia ser executada de maneira improvisada: "Ele encheu os barcos com seus cavaleiros ligeiros e as canoas com a infantaria mais leve. Os barcos grandes eram colocados rio acima e as balsas mais leves levadas mais para longe, rio abaixo, de modo que as embarcações pesadas recebessem força considerável da correnteza e as canoas, assim, estivessem menos expostas aos riscos da travessia". Os cavalos seriam rebocados a nado na popa dos barcos com um homem de cada lado segurando as rédeas de três ou quatro cavalos; assim, uma quantidade considerável deles poderia atravessar ao mesmo tempo. Outros eram selados e colocados a bordo das balsas maiores, de modo que seus cavaleiros estivessem preparados para uma ação instantânea quando atingissem o outro lado. Os elefantes representavam um problema muito diferente, o qual, como veremos, seria solucionado eficientemente quando chegasse o momento. Na quinta noite, enquanto o contingente principal fazia os preparativos para a manhã, as tropas de Hanão começaram a se deslocar para o sul. Assim que eles se posicionaram na retaguarda dos gauleses, enviaram um sinal de fumaça, conforme haviam combinado com Aníbal.

Na manhã do sexto dia, vendo a fumaça subir no céu a leste, Aníbal deu ordem para que a travessia se iniciasse. Barcos grandes e pequenos, balsas, canoas e botes a remo individuais que eles mesmo haviam feito se lançaram à mansa extensão do grande rio. Todos os gauleses deixaram seu acampamento ao mesmo tempo e se amontoaram na margem, entoando gritos de guerra, batendo em seus escudos e brandindo suas lanças. Na outra margem, os cartagineses que não haviam embarcado encorajavam aos brados sua vanguarda que ia à frente, na travessia; alguns cuidavam de vencer a correnteza, enquanto outros eram levados para baixo para poderem desembarcar ao sul do campo inimigo. As embarcações mais pesadas, levando os cavalos e seus cavaleiros, estavam a ponto de tocar a terra quando as tropas de Hanão surgiram na retaguarda dos gauleses. Houve, então, grande alarido e confusão quando os gauleses viram suas tendas e todo o seu acampamento ardendo em chamas.

Acuados por dois fogos, eles se puseram a correr desordenadamente para trás e para diante — sua disposição para a luta não lhes compensou a desordem. Aníbal cuidou deles com suficiente rapidez, e é significativo que em suas campanhas tenha utilizado mão-de-obra gaulesa de um modo cínico, exaltando sua bravura mas nunca os colocando num posto onde não estivessem cercados por tropas treinadas, tampouco sem uma retaguarda que os detivesse se eles resolvessem desertar e fugir.

Assim que a força total dos cartagineses desembarcou e começou a se fazer sentir, os gauleses fugiram precipitadamente. Aníbal havia estabelecido sua cabeça-de-praia na margem oriental do Ródano, e as outras tropas ficaram tranquilas para seguirem assim que um transporte regular por balsas foi organizado. No começo daquela noite, todos estavam acampados na margem leste. Na manhã seguinte, graves notícias chegaram até eles: um exército romano tinha desembarcado e se concentrava perto da foz oriental do Ródano. Se Cipião ficara atónito ao saber que Aníbal estava do outro lado dos Pireneus, é improvável que Aníbal tivesse ficado menos surpreso ao saber que os romanos estavam a tão curta distância. Quinhentos dos cavaleiros númidas foram imediatamente enviados para observar o paradeiro do inimigo e avaliar-lhes o número. Aníbal não desejava lutar na Gália — por mais que a vitória parecesse assegurada — pois tinha o objetivo de levar seu exército para a Itália. Devido à demora na Hispânia, ele havia excedido em muito o tempo que estabelecera, e a travessia do Ródano, que deveria ter sido realizada no solstício de verão, ou antes, aconteceu na verdade quase no fim de setembro. Se ele demorasse um pouco mais, os desfiladeiros das montanhas dos Alpes estariam irreversivelmente fechados. Enquanto isso, grandes embarcadouros haviam sido construídos junto ao rio com jangadas atracadas em seus terminais, para o transporte dos elefantes. Estes, por sua vez, eram atados por cordas rebocadoras aos barcos que os puxariam. "Depois disso, eles colocaram uma quantidade de terra ao longo das jangadas, até que elas alcançassem o mesmo nível e aparência do caminho na praia que levava à travessia". Mais uma vez surge, no relato de Políbio, o manuscrito há muito perdido daquela testemunha ocular grega.

Os animais estavam acostumados a sempre obedecer aos seus cornacas (mahouts) perto da água, mas não entrariam nela de forma alguma; assim, eles os conduziram por terra com duas fêmeas à frente, as quais os demais obedientemente seguiam. Tão logo se assentaram nas últimas jangadas, as cordas que prendiam firmemente umas às outras foram cortadas,e quando os barcos foram puxados com força, as cordas rebocadoras arrancaram da terra os elefantes e as jangadas ali colocados. Em consequência, os animais ficaram muito assustados e se puseram a correr em todas as direções; mas, como estavam completamente cercados pelo rio, eles finalmente se amedrontaram, sendo compelidos a ficarem quietos.Dessa maneira, continuando a atracar duas jangadas ao terminal da estrutura, eles conseguiram atravessar a maioria dos animais por esse meio; contudo, alguns ficaram tão apavorados que se atiraram ao rio bem no meio da travessia. Os cornacas desses últimos se afogaram, mas os elefantes se salvaram, graças à resistência e ao comprimento de suas trombas, que eles mantiveram acima d'água, respirando por elas ao mesmo tempo em que esguichavam a água que entrava em suas bocas. Assim, os animais resistiram, a maioria deles atravessando a água sobre as próprias patas.

Enquanto os últimos preparativos eram feitos e a travessia dos elefantes realizada, Aníbal se reunia com certo número de chefes tribais das planícies do Pó, homens que haviam lutado contra os romanos e que agora insistiam com ele para que não atrasasse sua passagem para a Itália. Aníbal sabia que muitos em suas tropas estavam preocupados com a jornada que os esperava adiante. Eles tiveram de lutar duramente após deixarem o Ebro: haviam passado pêlos Pireneus — mas sob boas condições — e tinham atravessado esse preparados para operar. Aníbal e seu grande comandante de cavalaria, Maárbal, teriam o cuidado de utilizá-los, no futuro, para acossar o adversário, guardando sua própria brigada pesada para enfrentar a equivalente romana. Nessa ocasião, a cavalaria romana estava Incumbida de sondar o acampamento cartaginês, calcular o número de homens que continha, e relatar tudo a Cipião.

Este, naturalmente, pensou que a presença do exército de Aníbal na margem leste do Ródano só poderia significar que o cartaginês estava se preparando para combater. Poderiam supor que ele tivesse conhecimento das movimentações de tropas romanas na Itália — tais coisas dificilmente eram mantidas em segredo e as portas do templo de Jano encontravam-se abertas (indicando um estado de guerra) desde Sagunto. Aníbal devia estar a par de que um ataque contra Cartago era preparado na Sicília enquanto ele, Cipião, seguia caminho pelo mar, com o objetivo de atacar o império cartaginês na Península Ibérica. Qual seria a resposta de Aníbal a tal ameaça? Marchar para o norte, cruzar o Ebro, colocar as tribos que ocupavam a região entre o rio e os Pireneus sob seu controle e, então, invadir o sul da Gália de modo a proteger a Hispânia contra um ataque do norte. A tarefa de Cipião estava clara: ele deveria atacar o mais breve possível, antes que Aníbal fosse capaz de persuadir muitos dos gauleses, que odiavam os romanos, a unir-se ao seu exército. Ele partiu para cobrir as sessenta milhas de seu acampamento principal com duas legiões (contendo quatro mil e quinhentos a seis mil homens cada uma), cerca de catorze mil soldados de infantaria aliados e dezesseis centenas de cavaleiros. Depois de apenas três dias de marcha (nenhuma grande façanha, uma vez que ele estava percorrendo tempestuosamente a mesma distância que tinha custado a Aníbal quatro dias), alcançou o ponto do Ródano onde os cartagineses haviam acampado.

O lugar estava deserto. Sua cavalaria não o enganara; ali se encontravam todos os vestígios do acampamento, assim como alguns gauleses locais para confirmarem que os estranhos do sul se achavam no local há três dias. Eles seguiram para o norte acompanhando as margens do grande rio (...) Só poderia haver uma conclusão, já que não existia nada ao norte exceto terras não-mapeadas habitadas pêlos selvagens gauleses. Aníbal deveria estar pretendendo o inimaginável—marchar até um dos rios afluentes do Ródano que descia dos Alpes e, então, seguir uma rota dada a ele pêlos gauleses, a qual levaria até a Itália.

Cipião apressou-se em regressar a Massala com suas legiões. É um grande tributo à sua frieza e perspicácia que ele não tenha decidido embarcar imediatamente com todos os seus homens de volta para a Itália. Mas a Hispânia lhe fora designada como sua esfera de operações, e ele percebeu que, o que quer que acontecesse, a Península Ibérica ainda permanecia sendo a chave de toda a guerra. Com Aníbal e seu exército afastados de sua base de origem, as armas romanas poderiam perfeitamente alcançar vitória sobre ela e destruir o coração da riqueza e poder cartagineses. Quanto a ele, estava claro que deveria retornar à Itália para se encarregar pessoalmente das tropas ao norte. Ele enviou sua frota e seu exército à Hispânia sob o comando de seu irmão Cneu e embarcou para a Itália. Se, e parecia improvável nessa época do ano, as tropas de Aníbal conseguissem atravessar os Alpes, elas o encontrariam à sua espera.

Com os elefantes e uma retaguarda de cavalaria seguindo o corpo principal das tropas, o exército invasor de Aníbal deslocava-se Ródano acima. Devem ter marchado o mais rápido possível, de modo a escapar do romanos; está claro que obtiveram sucesso, já que não houve mais relatórios a Cipião contendo informes acerca do inimigo. É duvidoso, em vista de restrições tais como os elefantes e sua bagagem, que eles pudessem ter sido mais velozes do que foram na primeira parte de sua marcha ao norte; pode-se então supor que catorze quilômetros por dia representassem seu progresso médio. De Políbio aprendemos que "Aníbal, marchando duramente desde o local de travessia por quatro dias, alcançou um local chamado de 'Ilha', um populoso distrito que produzia milho em abundância e devia seu nome à posição em que se encontrava; pois o Ródano e o Skaras, correndo cada qual de um lado, encontravam-se naquele ponto. É similar em tamanho e forma ao delta egípcio; exceto que neste caso o mar forma a linha de base unindo os dois braços do Nilo, enquanto no caso em questão a linha de base é formada por uma cadeia de montanhas difícil de se escalar ou penetrar, podendo-se mesmo dizer que são inacessíveis". Muita controvérsia académica tem surgido a respeito da localização dessa região conhecida como a "Ilha", controvérsia que pode nunca ter fim, embora Sir Gavin de Beer, combinando erudição com geografia, parece ter chegado a uma resposta mais confiável do que a maioria das teorias previamente expostas. A discussão surgiu através da variação de grafia nos manuscritos de Políbio e Lívio sobre o nome do rio que forma o terceiro lado do triângulo. Isso dificilmente teria acontecido se os estudiosos se dispusessem a aceitar o texto de Políbio que dá o nome do rio como Skaras. Políbio não só já escrevia há um bom tempo antes de Lívio (sendo que esse último se apoiou bastante nos historiadores gregos para o seu relato da guerra anibálica), mas também, ao contrário de Lívio, ele mesmo percorreu cuidadosamente o terreno nas pegadas de Aníbal em sua grande marcha. Políbio, mais que isso, fora soldado tanto quanto historiador, e — ao contrário do restrito estudioso Lívio — é muito improvável que ele tivesse cometido um grosseiro erro geográfico.

Políbio estabelece com clareza que Aníbal marchou avante quatro dias acima do Ródano após deixar o local de travessia. Isso faz com que sua distância do mar, após oito dias de marcha perfazendo catorze quilómetros diários, seja de cento e doze quilómetros — e exatamente nesse ponto dirige-se para o Ródano um grande afluente, o Aigues. Não somente o Aigues fica a uma distância apropriada do mar, mas também forma, junto com o Ródano e uma cadeia de montanhas chamada Baronnies, um grande e fértil delta. Hoje é bem cultivado e povoado, como sem dúvida o era há dois mil anos, uma vez que possui todos os requisitos para ser um vale cultivável. Somente em um aspecto esse pedaço triangular de terra não corresponde totalmente à descrição de Políbio, e é no seu tamanho, que sequer se aproxima da largura do delta do Nilo; mas, citando Sir Gavin de Beer: "Como não há qualquer pedaço de terra que esteja no lado oriental do Ródano, incrustado entre ele e algum rio, com tamanho que se aproxime do delta do Nilo, isso deve ser um erro de algum modo introduzido nos textos". Através dos séculos, desde que o rio foi registrado em latim como Acjua Iquarum (o s tornou-se i, o que não é incomum na filologia românica), Iquarum subsequentemente caiu, deixando somente Aqua, que, assim como em muitos outros nomes de locais, tornou-se aigue ou aygue ("água", em provençal). O nome do rio, hoje, é Aigues. Sua posição, relativa ao Ródano e à cadeia de montanhas Baronnies, e a distância perfeitamente correta entre o local de travessia de Aníbal e o mar, parecem confirmar que este é o Skaras de Políbio.

Em sua chegada à "Ilha", Aníbal encontrou um grande ajuntamento de gauleses, divididos em duas facções e visivelmente a ponto de pegarem em armas uma contra a outra. Dois irmãos disputavam a liderança da tribo, e o mais velho (bem como um chefe nativo apelando a algum general britânico numa remota parte do mundo do século XIX), veio a Aníbal pedir-lhe que resolvesse a disputa. Tendo ouvido os argumentos e cuidadosamente considerado o que estava certo e errado no caso, Aníbal se pronunciou em favor do irmão mais velho. Uma vez que ficou claro que o exército de Aníbal lutaria ao lado do mais velho, o reclamante mais jovem abandonou o território. O recém-proclamado chefe, então, demonstrou sua gratidão ao líder de pele escurecida do estranho exército estrangeiro suprindo-o com milho e outras provisões e, em particular, com roupas e calçados de inverno que seriam absolutamente necessários se eles estivessem para cruzar os Alpes. Mais importante ainda, ele guarneceu Aníbal com uma retaguarda, para proteger os cartagineses mais adiante em sua passagem contra ataques dos alóbrogos, uma outra tribo em cujo território eles iriam se aventurar no caminho em direção às colinas, pêlos sopés das montanhas distantes.

Após três ou quatro dias na "Ilha", Aníbal continuou a marchar "ao longo do rio" por dez dias. Embora os relatos de Políbio e Lívio estimando a chegada aos Alpes variem, sendo Lívio muito mais explícito ao descrever detalhes de tribos e lugares, os dois historiadores concordam quanto à rota básica. Onde Políbio diz que eles marcharam "ao longo do rio", Lívio afirma que Aníbal já estava ao alcance dos Alpes, mas em vez de marchar direto em direção a eles, "ele virou à esquerda (...)".

Postando-se na margem oriental do Ródano e olhando para os Alpes, o rio desce do norte—isto é, à esquerda do observador. Não há confusão aqui, embora alguns comentadores achem isso. A informação detalhada de Lívio sobre as tribos por cujas terras ele passou fornece mais pistas. Primeiro, ele veio ao "país dos tricastinos, e daí prosseguiu através dos territórios externos dos vocôncios até os tricórios (...)". Essas regiões tribais, como nos mostra um estudioso francês de destaque, Auguste Longnon, correspondiam muito estritamente às dioceses da primitiva igreja cristã, que, por sua vez, têm mudado pouco até o presente. Os tricastinos ocupavam a região norte da "Ilha", ao longo da margem do Ródano, enquanto os vocôncios estavam a nordeste, na região do rio Drôme, um afluente que corria para o Ródano vindo dos Alpes. Certamente foi quase no ponto em que o Drôme encontra o Ródano — onde, ao longe, os Alpes du Dauphine, azuis vistos à distância, preenchem o horizonte — que Aníbal volveu para leste. O exército ainda tinha seu flanco no rio, mas este, agora, era o claro, manso e montanhês Drôme. Após dez dias, aproximadamente cento e quarenta quilômetros desde a partida da "Ilha", o exército começou a deixar o rico vale e a subida aos Alpes teve início. Enquanto estavam em terra relativamente aberta, onde a cavalaria poderia se expandir, os alóbrogos, a respeito de quem Aníbal fora avisado, haviam-nos deixado em paz. Quando os gauleses seus amigos, que atuavam como guias e escoltas, voltaram para casa, os alóbrogos começaram a reunir mais homens e posicionar vigias nas elevações das quais o exército se aproximava. Esperavam pelo momento em que seus hábeis montanhistas pudessem ser lançados contra o gigante que lentamente avançava. (...) Os chefes dos alóbrogos reuniram uma considerável força e ocuparam posições estratégicas na estrada pela qual os cartagineses seriam obrigados a passar. Tivessem eles apenas mantido seu projeto em segredo e aniquilariam totalmente o exército cartaginês. Mas o seu esquema foi descoberto, e, embora infligissem considerável dano a Aníbal, prejudicaram muito mais a si próprios; pois o general cartaginês, tendo conhecimento de que os bárbaros haviam se instalado nessas posições críticas, acampou na base do desfiladeiro e, permanecendo ali, enviou alguns de seus guias gauleses para fazerem um reconhecimento da situação e conseguir-lhe informações sobre o plano do inimigo.

O trabalho da inteligência sempre foi um dos pontos fortes de Aníbal. Os gauleses voltaram com a notícia de que o inimigo montara guarda cerrada por todo o dia, mas à noite se retirou para uma aldeia nas proximidades, considerando que o combate noturno era uma impossibilidade. Aníbal iria lhes mostrar quão errados estavam (algo que também faria com os romanos mais tarde, na Itália). Tendo se aproximado abertamente à luz do dia até a entrada do estreito desfiladeiro, o exército acampou e, assim que anoiteceu, eles acenderam fogueiras, armaram as barracas e esperaram, passivamente — assim parecia — pelo amanhecer. Aníbal, enquanto isso, selecionou uma força-tarefa, possivelmente de iberos das regiões montanhosas, os quais, tão logo escureceu, moveram-se para ocupar os pontos estratégicos onde eles haviam visto os gauleses em seus postos. Descobriram que suas informações tinham sido corretas e as posições nas elevações que dominavam o desfiladeiro abaixo estavam completamente desertas. Novamente aqui, como já sabemos por seu feitos anteriores na Hispânia, é notável que Aníbal não tenha delegado a tarefa de liderar essa força-comando a qualquer dos membros de sua equipe. A liderança pessoal era tudo, e sem ela Aníbal nunca teria inspirado aquele exército mercenário como o fez — não somente nessas semanas de marcha e nos meses de sua primeira campanha, mas no decorrer de anos de guerras num país hostil.

Há um corredor escarpado na provável rota de Aníbal durante os estágios iniciais de seu avanço em direção aos Alpes que tem sido aceitavelmente identificado ao lugar onde os cartagineses tiveram seu primeiro conflito com os gauleses das montanhas. É o Desfiladeiro de Gás — uma passagem tão estreita em alguns trechos que somente cerca de seis homens em coluna, lado a lado, poderiam atravessar. A garganta era potencialmente uma armadilha mortal, e se foi através dessa rota que o exército passou, é possível supor que Aníbal não havia feito qualquer reconhecimento e fora enganado por seus guias, ou que ele simplesmente resolveu arriscar. Nenhuma dessas suposições parece provável, mas a geografia da rota de Aníbal tem originado inúmeros livros e teses, nenhum com efetiva comprovação, a menos que algum dia alguma evidência arqueológica seja encontrada para provar que "os cartagineses um dia passaram por esse caminho"; o máximo que se pode dizer é "Devem tê-lo feito".

À luz do dia, o exército, confiante de que as posições superiores estavam asseguradas por Aníbal e sua força, começou a se posicionar para a passagem através da garganta. A essa altura, os alóbrogos já haviam descoberto que seus pontos estratégicos tinham sido ocupados durante a noite. "De início eles desistiram de seu projeto", escreve Políbio, "mas depois de verem a longa fileira de animais de cargas e cavaleiros movendo-se com lentidão e dificuldade pelo estreito caminho, viram-se tentados a estorvar sua marcha".

Os gauleses, embora cientes de que Aníbal comandava as elevações acima deles, não resistiram à visão de tamanha presa e lançaram-se pelas escarpas inferiores para caírem sobre a coluna em avanço. Os cartagineses foram duramente pressionados a se defenderem; cavalos e mulas precipitavam-se para o lado de um despenhadeiro escarpado; feridos, os cavalos relinchando e retrocedendo, promoviam o caos na coluna, e em questão de minutos o avanço ordenado transformou-se numa apavorada refrega. Nesse momento, consciente de que a destruição do comboio de bagagens significaria a morte de todo o exército por inanição, Aníbal liderou os homens que estavam com ele numa carga selvagem em auxílio da vanguarda da coluna. Ele caiu sobre os gauleses como uma águia mergulhando das alturas, cortando-os em pedaços; na cruel batalha corpo a corpo que se seguiu, seus homens sulinos provaram ser um páreo duro para esses selvagens nortistas. Os gauleses se dispersaram e fugiram com os cartagineses no seu encalço. Enquanto o comboio de bagagens era rearrumado e o exército prosseguia através do desfiladeiro, Aníbal perseguia os gauleses.

Determinado a conceder ao exército tempo suficiente para se reorganizar e, com o moral restaurado, continuar a marcha, Aníbal, junto com suas tropas, apertou o passo até chegar à "cidade de onde o inimigo saíra para fazer sua investida". Encontrou-a abandonada, e assim recuperou uma boa quantidade de homens, animais de carga e cavalos que haviam sido capturados; encontrou também gado e trigo suficientes para alimentar o exército por dois ou três dias. Concedeu a seus homens vinte e quatro horas para que se recobrassem e recuperassem a tranquilidade (o moral deve ter ficado estremecido por conta desse ataque logo no início de sua aproximação aos apavorantes Alpes). Adiante ficava o primeiro grande desfiladeiro através da cadeia de montanhas, provavelmente o Passo Grimone, que conduz ao vale superior do Rio Durance (Druentia, segundo Lívio). Após deixar esse povoado gaulês, o exército teve o prazer de marchar por três dias por campo claro, aberto e sem inimigos à vista ou riscos geográficos. Eles necessitavam descansar, pois ainda não tinham acabado com os gauleses e havia uma infinidade de montanhas à sua frente.

Aníbal estava agora a meio caminho de seu destino, aproximadamente, numa travessia dos Alpes que ninguém jamais pensara que um grande exército pudesse realizar — nómades gauleses, sim, mas não um exército sofisticado, com tantos armamentos, provisões, e com milhares de cavalos, sem contar com os poderosos elefantes. Aníbal vinha do noroeste, do Passo Grimone, e estava na área ocupada pela tribo dos tricórios, cujo quartel-general era a cidade de Gap. Ele agora tinha que cruzar o Durance na metade da extensão do rio. Lívio, que incorretamente diz que Aníbal cruzou o Durance perto de sua foz — em vez de fazê-lo mais acima, em algum lugar antes de ele se reunir ao afluente Guil — fornece contudo uma descrição que deve refletir algo das condições em que o exército ora se encontrava: "(...) de longe o mais difícil de se cruzar entre todos os rios da Gália; embora ele despeje um vasto volume de água, não possibilita a navegação, pois não está confinado em quaisquer margens, e sim fluindo de uma só vez por vários canais, nem sempre os mesmos, a todo momento formando novos baixios e lagos — fato que também o torna perigoso para os que viajam a pé; além do mais, rolam pedras ásperas que não fornecem qualquer segurança ou estabilidade para se poder caminhar nele (...)". A visão e o ruído daquele exército, com elefantes, cavalos e milhares de soldados a pé, todos sob o comando daquele indomável cartaginês, cruzando o Durance em meio a uma enchente (como nos diz Lívio), com a áspera paisagem das montanhas ao fundo, fornece uma das mais duradouras imagens da Antiguidade. Se os soldados agora acreditavam ter deixado para trás os gauleses hostis, penetrando numa região onde poucos homens habitavam e por onde eles poderiam passar em paz, estavam prestes a se decepcionar. No quarto dia de sua marcha, após deixarem a aldeia dos alóbogros, eles foram contactados por um grupo de nativos que vinha em sua direção carregando ramos de oliveira como sinal de amizade (vale notar que a oliva, símbolo de fertilidade e paz, também é encontrada no vale superior do Durance). Aníbal não tinha qualquer motivo para acreditar neles, apesar de o presentearem com gado e de fornecerem reféns como garantia de sua boa-fé; porém, ele era suficientemente sábio para não contrariá-los demonstrando sua desconfiança. Eles disseram saber que as forças de Aníbal haviam capturado a aldeia e derrotado os que os atacaram; afirmavam que vinham como amigos, desejando ajudá-los através das montanhas. Já que estavam dispostos a providenciar guias, Aníbal, nunca deixando de se manter atento aos movimentos desses improváveis amigos, achou válido correr o risco. Sem dúvida, os gauleses que seguiam com ele eram tão ignorantes das montanhas e desfiladeiros que se encontravam à frente quanto os próprios cartagineses. Se Aníbal ordenasse que os "amigáveis" nativos fossem vigiados de perto, seria possível que eles o percebessem —, e as tropas cartaginesas ainda correriam o risco de serem atacadas à traição.

De modo a não deixar o comboio de animais de carga e bagagens perigosamente indefeso na retaguarda, Aníbal, rápida e cuidadosamente, posicionou-o atrás do corpo principal da cavalaria, na vanguarda; depois vinha o grosso do exército, seguido da nata da infantaria pesada como retaguarda. É quase certo que, se não tomasse essas sábias providências, o grande cartaginês teria perdido todo o seu exército. Dois dias de marcha adiante, os gauleses, que silenciosamente haviam se concentrado nas montanhas ao redor, prepararam seu ataque. O exército passava através de uma estreita garganta, seguindo a trilha que acompanhava o curso de um pequeno e rápido rio (possivelmente o Guil), que desaguava no Durance, o qual haviam deixado para trás. Era outubro, e naquela tardia estação do ano os cartagineses talvez tivessem pouca noção de direção básica — sem contar que desconheciam a área específica daquele território. Aníbal sabia que a Itália ficava em algum lugar a sudeste, mas mesmo coordenadas elementares, tais como o nascer e o pôr-do-sol, eram mascaradas pelas montanhas. Os guias, como ele suspeitava todo o tempo, provaram ser traiçoeiros.

Cavalgando na dianteira junto com a cavalaria, Aníbal ouviu o grande estrondo vindo da retaguarda, os gritos de homens e animais feridos e os selvagens brados que ecoavam por todos os lados dos inóspitos penhascos. "A retaguarda suportou o choque do ataque", escreveu Lívio, "e quando a infantaria deu meia-volta para juntar-se a ela, ficou muito evidente que se a coluna não tivesse sido reforçada naquele ponto, teria sofrido um grande desastre nesse desfiladeiro (...)". Grandes rochas rolavam pelas encostas das colinas, bloqueando o caminho através das fileiras de homens e animais enquanto, bem nos seus calcanhares, seguindo o caminho aberto por esses aríetes de pedras, os gauleses caíram sobre as tropas. O rio rugia abaixo deles, e lacunas surgiam na longa coluna à medida que homens e animais eram atirados para baixo pelas fulminantes pedras. Os gauleses contavam largamente com o elemento surpresa, mas este, felizmente para o exército cartaginês, malogrou graças a Aníbal: antevendo o perigo, ele dispôs suas tropas de maneira diferente, colocando o núcleo mais forte de sua melhor infantaria na traseira, onde o inimigo pensava encontrar o "brando" comboio de bagagens. Apesar disso, um grande número de homens, animais de carga e cavalos foram perdidos, e o inimigo conseguiu colocar "os cartagineses sob perigo e confusão tão grandes que Aníbal foi forçado a passar a noite com metade de seu exército num lugar protegido por um rochedo liso cobrindo o avanço de seus cavalos e do comboio de carga, até que, ao cabo de uma noite inteira de labuta, eles conseguiram se safar do desfiladeiro". Na manhã do oitavo dia de sua passagem através dos Alpes, o exército estava reunido e, apesar de suas perdas, avançava com boa disposição em direção aos desfiladeiros mais altos. (É possível que o "liso" ou "branco" rochedo onde Aníbal e metade de seu exército acamparam tenha sido o vasto e isolado rochedo de onde o Château-Queyras hoje contempla o vale Queyras.) Ao longo desse dia, embora não houvesse qualquer ataque coordenado feito pelo inimigo, as cansadas colunas estavam sujeitas a agressões esporádicas, e a resistente massa de homens e animais prosseguia inexoravelmente. O exército com o qual ele cruzara o Ródano, seus vigorosos veteranos cheios de confiança, seus cavalos, elefantes e animais de carga fortes e bem alimentados, eram gradualmente ceifados a cada dia que passava. Doença e acidente, assim como ação inimiga, devem nesse ponto ter enfraquecido consideravelmente suas fileiras.

No dia seguinte, avançando firmemente pelo desfiladeiro, acima da linha das árvores, o exército deslocou-se praticamente sem ser molestado: os montanheses haviam desaparecido, uma vez que ficara claro, agora, que os estranhos não ameaçavam seu território. Aníbal também descobriu que os elefantes inspiravam terror aos montanheses, e que nunca ousariam aproximar-se da parte da coluna onde estavam esses animais. Então, finalmente, "após uma subida de nove dias, Aníbal atingiu o cume (...)" À sua direita surgia a gigantesca massa do Monte Viso, e à sua frente, como na mira de um rifle, o céu era visível, obstruído por outras montanhas — uma promessa de esperança após dias de aparente desespero. Os cavaleiros da vanguarda da coluna alcançaram o local onde a grande barreira de montanhas, que se postava como uma muralha protetora do norte da Itália, subitamente se abria. Lá embaixo se revelava o território verde-escuro da Itália — sua terra prometida. Para isso muitos tinham morrido, e somente a impossibilidade de retorno e a impetuosa inspiração de seu líder haviam mantido esse exército multirracial e poliglota em movimento através da perigosa imensidão dos Alpes. Certamente um grito de alegria brotou das gargantas secas e geladas dos líderes, soando incompreensível para as fileiras fatigadas, até morrer no meio daquelas para quem sua causa era desconhecida e sem relação com os seus presentes sofrimentos.

Aníbal esperou por dois dias no ponto onde a trilha não ia mais acima. Aquelas áridas alturas não forneciam um lugar confortável para o descanso, mas foi essencial para o exército permanecer ali enquanto os desgarrados, tanto homens quanto animais, moviam-se para reunir-se a eles, como descreve Lívio:

Os soldados, exaustos com o esforço e os combates, foram autorizados a descansar; muitos animais de carga, que tinham caído entre as rochas, chegaram ao acampamento seguindo as trilhas do exército. Fatigados e desencorajados como estavam os soldados após tanto empenho, uma tempestade de neve — quando a constelação de Plêiades estava em ocaso — veio deixá-los em grande pavor. O solo por toda parte estava coberto com neve alta ao amanhecer (no décimo segundo dia desde a subida dos Alpes) quando eles começavam a marchar, e à medida que a coluna se movia lentamente, o desânimo e o desespero estampavam-se em cada semblante. Então, Aníbal, que seguia à frente dos estandartes, deteve o exército num promontório que proporcionava uma extensa vista e, apontando-lhes a Itália e as planícies ao redor do Pó, bem abaixo dos Alpes, disse que eles agora escalavam não só as muralhas da Itália, mas da própria Roma; o resto do caminho seria plano ou em declive, e depois de uma, no máximo duas batalhas, eles teriam em suas mãos e sob seu poder a cidade e capital da Itália.

Políbio situa essa assembléia do exército no dia anterior ao início de sua descida, mas também menciona que a estação estava "próxima do ocaso das Plêiades". Essa dupla referência fornece uma importantíssima pista da época em que Aníbal irrompeu nos Alpes antes de descer para a Itália. O ocaso das Plêiades refere-se à época na qual a constelação rica fora de vista no oeste no mesmo momento em que o sol está nascendo no leste. Era uma data muito importante nos tempos antigos, pois indicava o início da lavoura e semeadura para a colheita do próximo ano. Alguns comentadores nortistas perdem o rumo, infelizmente, ao esquecerem que nas latitudes mediterrâneas tal atividade em fins do outono ainda é um acontecimento — muito distinto, diga-se, na Inglaterra ou Alemanha, onde o inverno se apodera da terra. Consta que Aníbal saiu de Cartagena aproximadamente na metade de junho de 218 e passou cinco meses entre Cartagena e as planícies do Pó. Portanto, foi em meados de outubro que ele se deteve ante a linha divisória de águas acima da Itália e fitou o sul. Com certeza ele não pretendia cruzar os Alpes tão tardiamente; esperava, talvez, ter iniciado em maio. Ele se atrasou, como já foi lembrado, por causa da tardia chegada de muitas de suas tropas, provenientes dos quartéis de inverno; e também, como sabemos, devido aos pesados e inesperados combates ao norte da Hispânia. Parece, na verdade, que ele atingiu o referido ponto mesmo depois de outubro, pois o ocaso das Plêiades teria sido visível na latitude em que ele se encontrava durante a primeira quinzena de novembro, no ano de 218 a. C.

Contrariando o otimismo expressado no discurso de Aníbal, a descida desde a linha d'água foi até mesmo pior do que a longa subida até ali. O inimigo não era mais o gaulês das montanhas, mas sim as condições impostas pelo inverno — a queda de neve nas primeiras nevascas daquele ano, sob a qual, naquela altitude, jazia a dura e compacta neve do ano anterior. "O caminho descendente era muito estreito e íngreme, e tanto os homens quanto os animais não podiam saber onde estavam pisando por causa da neve; todos os que pisavam fora da trilha ou tropeçavam eram atirados ao precipício." Lívio concorda com Políbio em seu relato sobre os perigos da descida; ambos os historiadores descrevem cenas semelhantes e fatos que devem ter pesquisado numa fonte comum: "Eles, então, chegaram a uma estreitíssima colina, com rochas tão perpendiculares que era difícil, mesmo para um soldado que não levasse carga, realizar a descida, ainda que a fizesse agarrando-se com as mãos aos arbustos e raízes que aqui e ali se projetavam. O lugar havia sido escarpado anteriormente, e um recente deslizamento de terra o aprofundara uns bons milhares de pés".

A cavalaria deteve-se ali — parecia-lhes que haviam finalmente alcançado o fim da estrada, uma posição sem chances de avanço — e foi comunicado a Aníbal que o caminho era intransponível. Não somente um deslizamento de terra, mas também o volume de neve acumulada bloqueavam o exército. A neve fresca encobrindo as velhas trilhas fazia com que os animais, quando rompiam a superfície, afundassem as patas no leito mais abaixo, enquanto a neve mole se fechava ao redor deles, segurando-os como uma garra gelada. Os homens se saíam pouca coisa melhor: quando tentavam erguer-se sobre as mãos e joelhos, eles não conseguiam apoio na neve velha e profundamente congelada, e escorregavam pelas escarpas que serviam como degraus. Aníbal percebeu que não havia como fazer qualquer desvio, mas que o estreito desfiladeiro da montanha podia ser reforçado e toda a trilha nivelada. Representou um grande desafio para a habilidade de seus engenheiros e para a consumada coragem de seus homens (consta que ele utilizou númidas para essa tarefa de construção de estrada) que uma passagem, boa o suficiente para permitir que os cavalos e animais de carga prosseguissem, tivesse sido construída no espaço de três dias. Lívio adiciona um outro detalhe famoso à história da descida do exército para a Itália — a quebra da rocha que caíra bloqueando seu caminho com a aplicação de líquido e calor. Foi uma sorte que a queda da rocha tenha acontecido num ponto abaixo da linha das árvores, pois se tivesse ocorrido onde não houvesse madeira disponível, sua situação com certeza teria sido desesperadora:

"Uma vez que tinham que abrir caminho através da rocha, eles derrubaram algumas árvores enormes que estavam ao seu alcance e, podando seus galhos, fizeram uma imensa pilha de toras. Nela atearam fogo, tão logo soprou um vento fresco suficiente para fazê-la queimar, e aspergindo vinagre sobre as rochas incandescentes, fizeram-nas despedaçar". A queda de rochas deu-se claramente a mais de meio caminho desfiladeiro abaixo, onde "as escarpas são cobertas de relva e árvores". A referência ao vinagre tem sido muito ridicularizada através das épocas, mas de acordo com uma crença muito antiga, o vinagre ajudava a tornar as pedras quebradiças. (O "vinagre" de Aníbal deve, indubitavelmente, ter sido vinho azedo, mas ele dificilmente teria quantidade suficiente, nesse ponto da jornada, para causar grande impacto.) O fato é que, em certos tipos de pedra, uma ducha de água teria sido mais que suficiente, quando elas estivessem incandescentes, para ajudar a rachá-las e fazê-las desintegrar ante as picaretas dos pioneiros. Apesar do atraso causado por essa avalanche, a vanguarda do exército chegou à planície três dias após ter deixado o desfiladeiro alto, mas deve-se supor que isso tenha acontecido vários dias antes que os últimos dos desgarrados e exaustos animais tivessem completado a descida. Políbio, seguido por Lívio, diz que a travessia dos Alpes teria levado quinze dias ao todo, conta que está em desacordo com o número de dias relatado em sua própria narrativa. O espaço de tempo entre o início de sua escalada dos Alpes e a assembleia nas planícies do Pó, conforme ele, foi de dezoito dias. Isto pode ser explicado de duas maneiras: os quinze dias se aplicam à real travessia dos Alpes e não ao início da subida em direção a eles, o que provavelmente custou mais uns três dias; ou, ainda, a diferença pode ser encontrada entre a chegada da vanguarda do exército ao seu acampamento na Itália e a reunião final de todas as tropas e animais. Uma coisa é certa: apesar da falta de forragem nas partes mais altas das montanhas e das terríveis condições através das quais eles viajaram, não há menção de qualquer dos elefantes ter sido perdido, ao passo que perdas de cavalos, animais de carga e homens são registradas.

Por qual desfiladeiro Aníbal conduziu seu exército na descida até as planícies do Pó é pergunta que tem gerado muita controvérsia no decorrer dos séculos e ocasionado vários escritos diferentes, de muitos monógrafos. Alguns desfiladeiros, tais como o Grande St. Bernard e o Pequeno St. Bernard, são relativamente fáceis de se descartar, uma vez que eles não levam ao país habitado pêlos taurinos — tribo em cujo território as forças de Aníbal emergiram em sua descida dos Alpes. O que é perfeitamente claro nos relatos da travessia de Aníbal pêlos Alpes é que o desfiladeiro utilizado por ele está entre os altos e perigosos que conduziam de modo íngreme à Itália. Após verificarmos todos os dados, sem contar as teorias, os quatro mais cotados continuam sendo o Monte Cenis (tornado famoso por Carlos Magno e Napoleão), o Passo Clapier, o Montgenèvre e o Traversette. O desfiladeiro Monte Cenis e o Passo Clapier possuem ambos locais próximos ao cume onde o exército poderia ter acampado, mas o Passo Clapier tem preferência, sendo um desfiladeiro alto e rústico. Ele também possui uma saliente espora no início de sua descida em direção à Itália, de onde se tem uma esplêndida vista das planícies abaixo. O Montgenèvre, que através dos anos ganhou muitos partidários, oferece um bom local para acampamento, mas é o mais baixo de todos os desfiladeiros e não está de acordo com o retrato da perigosa rota tomada por Aníbal.

O desfiladeiro mais alto de todos os quatro, o Passo de Traversette, preenche quase todos os requisitos das narrativas, mas falta um local de acampamento adequado. Fortes argumentos podem ser, e têm sido, adaptados para cada uma dessas quatro rotas de acesso. A escolha final parece recair entre o desfiladeiro de Clapier e o de Traversette, com ligeira diferença em favor do Passo Clapier.

Escrevendo no primeiro século da Era Cristã, Juvenal mostra aqui, e em várias outras referências de suas sátiras, que, mesmo trezentos anos após a morte de Aníbal, a lembrança do grande cartaginês permanecia profundamente gravada na consciência romana:

Agora a Espanha expande seu império, agora ele galga Os Pireneus. A Natureza lança em seu caminho Altos desfiladeiros alpinos, tempestades de neve; mas ele parte As duras rochas em pedaços, move montanhas com vinagre. Agora a Itália é dele, e ainda ele se impõe: "Nós nada realizamos", ele brada, "até que tenhamos tomado Os portões de Roma, até que nosso estandarte cartaginês Esteja cravado no coração da cidade".

Juvenal também confirma que sua surpreendente façanha de cruzar os Alpes tornara-se assunto para os ensaios e poemas dos escolares. Na verdade, o brado Hannibal ad portas! (Aníbal está às portas!) era usado para amedrontar crianças romanas travessas, assim como, séculos após na Bretanha, "Boney vai te pegar!" evocava a sombra de Napoleão e produzia o silêncio do medo nos quartos de crianças britânicas. O historiador romano Floro, escrevendo logo depois de Juvenal, compara a descida de Aníbal à Itália com um raio lançado dos céus por cima dos horrendos Alpes sobre a bela terra da Itália.

Para que não possam restar dúvidas, quando chegaram as notícias a Roma de que o impossível acontecera — Aníbal e seu exército cartaginês haviam irrompido tal qual uma águia nos desfiladeiros dos Alpes — houve pânico na cidade. Era, contudo, uma águia esfarrapada e magra, que então alisava suas asas sob a pálida luz do sol de inverno do norte italiano e tentava tirar algum proveito do que restou da horrível marcha.

Reunidas uma vez mais em uma terra que fornecia pasto, cereais e animais para abate, as tropas, que em aparência e condição mais se assemelhavam a animais do que a homens, poderiam, pela primeira vez em muitos meses, desfrutar de algum conforto — ainda que não por muito tempo — e recuperar suas forças. Aníbal podia agora proceder a uma cuidadosa análise e saber com exatidão o que o seu inacreditavelmente arriscado empreendimento havia lhe custado. Pela vantagem da surpresa e para assegurar a ligação da sua causa à dos gauleses na Itália, ele havia pago tão caro que a maioria dos generais teria considerado a campanha já perdida. De acordo com Políbio, a mais notável autoridade no assunto, ele havia cruzado o Ródano com cerca de cinquenta mil soldados de infantaria e nove mil cavaleiros e, uma vez que não há registro de quaisquer perdas após ou durante a travessia do Ródano, presume-se que fora com um número aproximado — levando-se em conta as perdas naturais devido a acidentes e doenças — que ele tenha iniciado sua subida aos Alpes. Lívio fornece algarismos conflitantes quanto ao número de homens que iniciou a travessia e o número que se perdeu no caminho. Alguns deles são tão exagerados que só podem ter sido engendrados pela posterior propaganda romana, desenvolvida para inflar o ego romano até o tamanho do exercito que seus antepassados haviam enfrentado.

Como exemplo, uma das fontes latinas que ele cita diz que Aníbal chegou à Itália com cem mil soldados de infantaria e vinte mil cavaleiros — muito mais do que ele tinha no início. Políbio é mais confiável, uma vez que, como ele nos conta, havia visto a inscrição no Lacínio, na qual o próprio Aníbal colocara os fatos e números de suas campanhas. Seu relato revela Aníbal alcançando o solo italiano no sopé dos Alpes com doze mil soldados de infantaria africanos e oito mil iberos, e não mais que seis mil cavaleiros. Entre os Pireneus e a Itália, portanto, ele tinha perdido — principalmente nos Alpes — uns trinta mil soldados, além de três mil cavalos. Isso se aproxima da afirmação de Lívio baseada no relato de um prisioneiro romano de Aníbal, a quem o grande cartaginês teria revelado que perdera, após atravessar o Ródano, trinta e seis mil homens e um vasto número de cavalos e outros animais.

Quinto Fábio Pictor, primeiro dos historiadores latinos, conhecido como o Pai da História Romana, lutou contra Aníbal na guerra que estava para começar e reconheceu que naquele período os romanos e seus Estados aliados eram capazes de mobilizar setecentos e cinquenta mil homens. Aníbal sabia, pois fora avisado previamente pêlos gauleses na Itália, que muitos milhares deles iriam se sublevar, aclamando-o como libertador, e se uniriam às suas forças na guerra contra Roma. Ele conhecia a bravura deles (bem como sua falta de disciplina), mas o que não poderia saber, enquanto contemplava seu maltratado exército recuperando-se no sopé dos Alpes, era quantos deles exatamente se uniriam sob seu estandarte. Havia subjugado as tribos do norte da Hispânia, e tudo o que precisavam da Península Ibérica constituía agora colônia cartaginesa; cruzara os Pireneus e o Ródano; e podia olhar para trás em direção aos luzentes picos alpinos, que conquistara com tão severas perdas, como a última grande aventura entre ele e seu objetivo. Porém agora deveria enfrentar os fortes e disciplinados exércitos de Roma — e naquele momento ele tinha não mais do que vinte mil semidefinhados soldados, seis mil cavaleiros em esqueléticos cavalos, e trinta e sete extenuados elefantes. Era muito pouco com que medir forças contra o maior poderio do mundo mediterrâneo.

O avanço de Aníbal pelos Alpes

Públio Cornélio Cipião, o cônsul que havia falhado em deter o avanço de Aníbal no Rio Ródano e que havia retornado à Península Itálica após enviar seu exército, sob o comando de seu irmão, para a Hispânia, ficou horrorizado quando soube que o exército de Cartago estava agora acampado no sopé dos Alpes. Quando Aníbal esquivou-se dele, marchando para o norte ao longo da margem do Ródano, Cipião não imaginava que ele enfrentaria os desfiladeiros dos Alpes tão tardiamente no ano — e muito menos que ele conseguiria transpô-los. O cônsul Tibério Semprônio Longo, seu companheiro, ainda estava na Sicília com o exército que fora preparado para o ataque a Cartago. Ele havia tomado as Ilhas Eólias, bem como o posto de trocas cartaginês de Malta quando chegaram a ele as notícias de que o inimigo estava na Itália, e ele deveria retornar o mais rápido possível para se juntar a Cipião. Este último, tendo assumido o comando das legiões do norte, havia marchado para a planície do Rio Pó, onde acampou, pronto para combater no instante em que Aníbal se movesse para o sul. Suas tropas haviam sido severamente maltratadas durante a revolta gaulesa nas mãos dos boios, e seu moral decaíra muito em consequência disso. Cipião fez o máximo para animá-los, trazendo-lhes à memória que os romanos já haviam derrotado os cartagineses antes; que o exército de Aníbal deveria estar em condições lamentáveis após a travessia dos Alpes, e que eles eram a última esperança de defesa de sua cidade e sua terra.

O exército romano

O exército republicano estava destinado, no espaço de três séculos (a partir de 350 a.C.), a conquistar primeiro a Península Itálica e depois todo o mundo conhecido. "Este exército venceu sucessivamente os vigorosos soldados nativos da Itália e os montanheses da Espanha, e derrubou a treinada falange macedônica", escreveu F. J. Haverfield. "Somente uma vez fracassou — contra Aníbal. Mas nem mesmo Aníbal seria capaz de tirá-los de seu entrincheiramento, e nem as vitórias do cartaginês poderiam enfraquecer permanentemente seu moral". E era de suas legiões — a principal unidade de seu exército — que Roma mais dependia. Aníbal não demorou a perceber as vantagens de tais unidades táticas e, em consequência, modificou suas próprias disposições.

Além das legiões, o exército romano reunia contingentes extraídos dos "aliados" italianos, súditos de Roma, que eram armados e treinados como legionários e frequentemente pareciam igualar estes últimos em quantidade. Naqueles dias, a cavalaria, ligada a cada legião, parece ter sido de pequena conta — um fato do qual Aníbal e seus bem-organizados númidas e iberos tiraram uma grande vantagem — isso até que Cipião, o Africano, filho do Cipião que ora avançava para enfrentar Aníbal, aprendesse com seu inimigo como utilizar a cavalaria, restabelecendo assim o equilíbrio entre as forças. Os centuriões eram a espinha dorsal das legiões, soldados profissionais há muito tempo em serviço que levaram o nome de Roma da Índia à Escócia. Acima deles havia seis tribunos para cada legião, tanto oficiais veteranos quanto jovens nobres no início de suas carreiras.

Era prática normal que, quando um cônsul fosse para campo, ele tivesse consigo um exército de duas legiões, junto com um número apropriado de "aliados". Quando dois cônsules fossem para campo juntos eles teriam, conseqüentemente, quatro legiões, uma infantaria aliada, uma cavalaria legionária e uma cavalaria aliada. De acordo com Políbio, no primeiro grande embate entre os cartagineses e os romanos em 218, junto ao Rio Trébia, os dois cônsules com suas forças combinadas possuíam um exército de dezesseis mil legionários e vinte mil soldados de infantaria aliados.

A grande desvantagem contra a qual os romanos lutavam — a qualquer custo nas primeiras fases da guerra — era a de os cônsules serem mudados a cada ano e, quando os dois estavam juntos, comandavam a força combinada em turnos. Um procedimento republicano tão "democrático" certamente viria a fracassar quando em conflito com a inteligência, o comando e a força de vontade de um homem — particularmente quando esse homem era um gênio da guerra. As táticas romanas em batalha eram relativamente simples e, uma vez que se haviam provado tão vitoriosas em guerras anteriores, foram utilizadas contra os cartagineses até que estes demonstrassem aos inimigos, com uma flexibilidade desenvolvida para enfrentar qualquer situação nova, que aquilo que tinha triunfado sobre latinos, gregos e tribos gaulesas necessitava de adaptação. Primeiramente, a linha de frente romana abria fogo com suas lanças de arremessar, investindo em seguida com suas espadas — algo semelhante à saraivada de mosquete e à carga de baioneta de guerras posteriores. Se isso não funcionasse para destruir a vanguarda inimiga, a segunda linha, passando através da primeira, de acordo com o princípio do tabuleiro de xadrez, repetiria o procedimento. Os veteranos mantidos na reserva poderiam, então, ser utilizados se necessário, enquanto todo o tempo a infantaria de armas leves atacava nos flancos do inimigo, auxiliada pela cavalaria.

Essas táticas haviam servido bem aos romanos no passado — também o fariam no futuro, mostrando-se porém inadequadas diante de um general que modificava suas próprias táticas para se adaptarem a cada novo campo de batalhas, e que utilizava elementos de surpresa e armadilhas cuidadosamente preparadas, nas quais os romanos quase sempre estavam destinados a cair. Algumas das acusações de perfídia e má-fé púnica feitas posteriormente contra Aníbal por escritores romanos sem dúvida se originaram do fato de que ele não fazia guerra de acordo com regras estabelecidas. Ele não era convencional. Seria com um caráter de algum modo similarmente não-convencional que Napoleão iria destruir os exércitos da Europa do século XVIII, que marchavam em ordem meticulosa para o campo de batalhas, e ficavam consternados ao descobrir que seu inimigo não estava "jogando o jogo" de acordo com as bem conhecidas regras, e sim lutando para vencer a guerra por quaisquer meios disponíveis.

Aníbal chega à Península Itálica

A revolta dos boios contra os romanos, que, sem dúvida, Aníbal esperava que fosse mais ou menos coincidente com sua própria chegada ao norte da Península Itálica , havia sido prematura. Possivelmente isso fornece mais evidências de que Aníbal estava uns dois meses atrasado em sua campanha. A revolta, não obstante tenha prejudicado seriamente o moral romano, fez na verdade com que legiões romanas se concentrassem no norte numa época do ano em que, sob circunstâncias normais, as únicas tropas teriam sido limitadas guarnições em lugares como Cremona, Placência e Arímino (atual Rimini). Cipião iria, assim, encontrar um exército preparado em campo que, embora necessitasse de sua presença e exortação, já estava a postos, não muito longe do campo de batalhas escolhido.

A primeira tarefa de Aníbal, quando seu exército e os animais estivessem suficientemente recuperados para entrarem em ação, seria certificar-se de que os gauleses do norte da Península Itálica reconheceriam os cartagineses como seus libertadores da opressão romana. Infelizmente, a mesma tribo por cujas terras ele havia chegado, os taurinos, não estavam dispostos a aceitar sua oferta de amizade e foram à guerra contra os ínsubres, outra tribo gaulesa — mas que estava disposta a aceitar o cartaginês como seu líder. Aníbal havia aprendido há muito, em suas experiências no trato com as tribos da Espanha, que nada funcionava tão bem contra elas como a ação rápida e determinada.

Ele se movimentou rapidamente contra os taurinos e atacou sua principal cidade — mais tarde conhecida como Augusta Taurinorum (atual Turim). Em três dias, ele a havia tomado e passado pela espada todos os que se opunham a ele, enquanto acolhia os que eram dóceis ao seu estandarte. Esta medida simples teve o efeito desejado, e daí em diante todos os gauleses nas regiões vizinhas se apressaram em unir-se às suas fileiras contra o inimigo comum. Cipião, contudo, agira igualmente rápido e cruzara o rio Pó — nessa época do ano, uma torrente gelada e veloz — trazendo suas tropas até o Rio Ticino. Fazendo isso, ele havia isolado muitos dos gauleses na região do Pó, e estes gauleses simpatizavam com Aníbal, mas a presença romana os impedia de se unirem a ele. As ações seguintes dos dois líderes — neste momento crucial antes que o choque das armas ressoasse por toda a Itália — podem parecer estranhas para o leitor atual, mas devem ser vistas à luz de uma época onde a comunicação individual entre um general e suas tropas possuía uma importância imensa. Como não havia "Ordens do Dia" impressas, não existia outra forma de exortação possível a não ser esta: o comandante se posicionava de modo a atingir o maior número possível de homens reunidos em um local para ouvi-lo. O discurso formal antes da batalha (tão frequentemente bem debruado pelos historiadores antigos, porém fiéis ao espírito da época) podia ter um formidável efeito sobre o moral dos soldados, em sua maioria analfabetos, muitos dos quais ignoravam até mesmo as razões de terem sido convocados para a batalha.

Públio Cornélio Cipião, por exemplo, parece ter se preocupado em enfatizar que ia se travar uma guerra porque os cartagineses haviam traiçoeiramente atacado Sagunto — rompendo, assim, a paz acertada entre Roma e Cartago após a Primeira Guerra Púnica. Ele lembrou que, como havia sido demonstrado na guerra anterior, os romanos eram superiores ao melhor que os cartagineses pudessem apresentar em campo; agora só o que tinham pela frente eram os semidefinhados remanescentes do exército de Aníbal, ainda não recuperados de sua travessia dos Alpes. Advertiu ainda a seus soldados que não havia mais os Alpes para proteger sua terra ou a própria Roma — e nenhum outro exército, salvo eles próprios.

O contato entre Aníbal e seus homens foi ligeiramente diferente, e é fácil perceber por quê. Ele tinha que se comunicar com um exército que conjugava homens provenientes de várias raças e, sem dúvida, falando muitos dialetos. Escolheu, por isso, reduzir as palavras ao mínimo, provendo a sua audiência de uma imagem visual para fácil compreensão de sua presente situação e para demonstrar de que maneira, se lutassem bem, poderiam tirar proveito disso. O exército estava formado em um grande círculo no centro do qual foram colocados alguns prisioneiros feitos entre os gauleses que os haviam atacado durante sua marcha. A estes foram dadas duas opções: permanecerem prisioneiros e escravos ou, se estivessem dispostos a lutar um contra o outro em combate individual, a liberdade ao vencedor, além de armas, armadura e um cavalo. Quanto aos perdedores, a morte pelo menos poderia livrá-los de seus sofrimentos presentes. Unanimemente, todos os prisioneiros gauleses votaram pelo combate. Depois que essas lutas à maneira dos gladiadores terminaram, os mortos foram retirados e os prisioneiros que não tinham tido sorte suficiente para estar entre os participantes selecinados por sorteio haviam sido levados acorrentados, mal havia necessidade para palavras. Ali, disse Aníbal, estava o fiel retrato da situação de seus homens: se eles lutassem bem e triunfassem, Roma e todas as riquezas daquele país seriam deles; se perecessem em batalha, estariam livres de mais sofrimento; mas se eles lutassem e perdessem, então nada mais do que a miséria da escravidão os aguardava.

A Batalha

O primeiro encontro entre os romanos e os cartagineses dificilmente merece ser classificado como uma batalha: foi mais uma escaramuça de cavalaria, na qual, e não pela última, vez na guerra, a superioridade da cavalaria de Aníbal sobre a dos romanos foi logo estabelecida. Os romanos, então, ainda cavalgavam sem arreios (como o fazia a cavalaria grega antes deles). Assim também a brigada leve de Aníbal, os númidas, mas é digno de nota Políbio afirmar que, nessa ocasião, Aníbal colocou "toda a sua cavalaria mais pesada e equipada à frente do exército". Esta brigada pesada era oriunda da Península Ibérica: sem dúvida, ele se lembrava de sua experiência na qual os númidas haviam levado a pior diante dos romanos durante seu prévio encontro perto do Rio Ródano. Cipião, avançando para encontrar seu inimigo, havia construído uma ponte sobre o Ticino, um afluente do . Ele atravessara suas tropas e marchava para norte, enquanto Aníbal descia para encontrá-lo. A terra plana daquela região era ideal para a cavalaria, muito embora o duro clima do norte da Península Itálica no inverno deva ter tornado o avanço desagradável para ambos os exércitos — em particular para os soldados de infantaria iberos e norte-africanos, que provavelmente ainda não haviam se recuperado da fadiga dos Alpes.

Assim que os exércitos se aproximaram um do outro e acamparam, ambos os generais assumiram o comando de suas cavalarias e saíram para um reconhecimento. Certamente as pesadas chuvas de inverno não tinham ainda devolvido àquelas planícies os seus costumeiros campos de lama, pois tanto Políbio quanto Lívio comentam o fato de que cada lado avançava observando a aproximação do outro pelas densas nuvens de poeira levantadas pelos cavalos. Aníbal, colocando sua cavalaria pesada no centro, liderou pessoalmente o ataque, enquanto distribuía os númidas pelas laterais para flanquear o inimigo, se possível. Cipião, por sua vez, avançou com a cavalaria ligeira no centro e manteve a cavalaria mais pesada de romanos e gauleses na retaguarda. Encontrando-se frente a frente, os cavaleiros romanos armados com armas leves foram forçados a bater em retirada, após uma infrutífera descarga de suas azagaias, ante o peso do centro cartaginês.

Muitos cavaleiros de ambos os lados ou foram derrubados ou desmontaram deliberadamente, de forma que o embate agora se tornara um conflito tanto de infantaria quanto de cavalaria. Enquanto a confusão reinava no centro, os númidas que se postavam em ambos os lados de Aníbal voltaram-se e flanquearam os romanos. Estes puseram-se em fuga e, para aumentar o caos, o cônsul Públio Cornélio Cipião foi gravemente ferido. Diz a tradição que ele somente foi salvo de ser capturado pela ação de seu filho, que mais tarde se tornaria conhecido como o famoso Cipião, o Africano — o derradeiro vencedor de Aníbal — que dirigiu uma carga contra os combatentes ao redor de seu pai e o trouxe a salvo do campo de batalhas. Os romanos agora batiam em retirada veloz e bem oportunamente, mas o cônsul ferido, tendo notado a superioridade da cavalaria inimiga e preocupado com a segurança de seu exército, ordenou uma retirada total até a linha do Pó. A ação fora por demais inconsequente, mas tinha dado a ambos os lados uma chance de avaliar o inimigo. Ademais, o ferimento de Cipião havia desalentado os romanos, além de tê-los desprovido de sua liderança na batalha que estava por vir.

Enquanto Cipião cruzava o Pó e reunia seus homens em Placência, a leste do Rio Trébia, que nesse ponto flui para dentro do Pó, desde seu berço nos Apeninos, Aníbal vinha furiosamente em seu encalço. Ele chegou ao local onde os romanos tinham construído uma ponte sobre o Ticino e capturou seiscentos homens da força que tinha sido deixada para guardá-la. Então, marchou pelo Pó por dois dias até encontrar um lugar relativamente fácil de atravessar. "Ali", diz Políbio, "ele se deteve e, construindo uma ponte de barcos, ordenou a Asdrúbal, seu principal comandante, que cuidasse da passagem do exército, enquanto ele próprio, atravessando de imediato, concedia uma audiência aos enviados que tinham chegado dos distritos das redondezas." Sua captura do quartel-general dos taurinos, seguida por seu recente sucesso contra os romanos, tinha confirmado a prometida lealdade dos gauleses ao cartaginês e eles vieram reunir-se, chegando de todo o continente ao redor.

Alguns dias mais tarde, tendo marchado pela margem sul do Pó e trazido ao acampamento romano o espetáculo da visão de seu exército — desafiando-os a combatê-lo — a autoconfiança de Aníbal novamente rendeu-lhe dividendos. Uns dois mil auxiliares gauleses, junto com duzentos cavaleiros, revoltaram-se contra seus chefes romanos em Placência e vieram até ele. Ao mesmo tempo, os chefes dos boios encaminharam-se ao acampamento cartaginês e prometeram toda sua assistência na guerra prestes a vir. A despeito das pesadas perdas que havia sofrido em sua passagem pelos Alpes, Aníbal agora era capaz de mobilizar um exército grande o bastante para enfrentar qualquer tropa que os romanos pudessem — até o momento — reunir contra ele. A força física e a bravura inata dos gauleses teriam de ser utilizadas no conflito posterior para pressionar os romanos, enquanto os seus próprios soldados treinados e preparados profissionalmente, seriam sempre mantidos na reserva para o aniquilamento. Nessa estratégia geral foram baseadas suas táticas de assalto a Roma.

A europa em geral

A Segunda Guerra Mundial (19391945) opôs os Aliados às Potências do Eixo, tendo sido o conflito que causou mais vítimas em toda a história da Humanidade. As principais potências aliadas eram a China, a França, a Grã-Bretanha, a União Soviética e os Estados Unidos. O Brasil se integrou aos Aliados em 1943. A Alemanha, a Itália e o Japão, por sua vez, perfaziam as forças do Eixo. Muitos outros países participaram na guerra, quer porque se juntaram a um dos lados, quer porque foram invadidos, ou por haver participado de conflitos laterais. Em algumas nações (como a França e a Jugoslávia), a Segunda Guerra Mundial provocou confrontos internos entre partidários de lados distintos.

O líder alemão de origem austríaca Adolf Hitler, Führer do Terceiro Reich, pretendia criar uma "nova ordem" na Europa, baseada nos princípios nazistas da suposta superioridade alemã, na exclusão — e supostamente eliminação física incluída — de algumas minorias étnicas e religiosas, como os judeus e os ciganos, bem como deficientes físicos e homossexuais; na supressão das liberdades e dos direitos individuais e na perseguição de ideologias liberais, socialistas e comunistas.

Tanto a Itália como o Japão entraram na guerra para satisfazer os seus propósitos expansionistas. As nações aliadas (como a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da América) opuseram-se a estes desejos do Eixo. Estas nações, juntamente com a União Soviética, após a invasão desta pela Alemanha, constituíram a base do grupo dos Aliados.

A Primeira Guerra Mundial - "feita para pôr fim a todas as guerras" - transformou-se no ponto de partida de novos e irreconciliáveis conflitos, pois o Tratado de Versalhes (1919) disseminou um forte sentimento nacionalista, que culminou no totalitarismo nazi-facista. As contradições se aguçaram com os efeitos da Grande Depressão. Além disso, a política de apaziguamento, adotada por alguns líderes políticos do período entreguerras e que se caracterizou por concessões para evitar um confronto, não conseguiu garantir a paz internacional. Sua atuação assemelhou-se à da Liga das Nações: um órgão frágil, sem reconhecimento e peso, que deveria cuidar da paz mundial, mas que fracassou totalmente. Assim, consolidaram-se os regimes totalitários, que visavam sobretudo a conquistas territoriais, processo que desencadeou a Segunda Guerra Mundial.

O Tratado de Sèvres foi o primeiro a ter seus termos fundamentalmente alterados. Suas cláusulas haviam consagrado a perda, pela Turquia, não apenas da Palestina, Síria, Líbano e Mesopotâmia, mas também praticamente de todos os territórios turcos na Europa (com exceção de Constantinopla) e da região de Esmirna, ambas entregues à Grécia. Além disso, os estreitos de Bósforo e dos Dardanelos seriam neutralizados e sua travessia permitida, em quaisquer circunstâncias, a todos os navios estrangeiros, mercantes ou de guerra. Finalmente, as tradicionais capitulações, que lhes davam numerosos privilégios, sobretudo comerciais, e que subtraíam seus súditos à jurisdição das autoridades otomanas.

Os termos subscritos em Sèvres suscitaram uma grande comoção nacionalista na Turquia. Irrompeu a guerra e os gregos foram varridos da Anatólia e dos territórios turcos na Europa, sendo forçados a uma paz que as grandes potencias, inquietas com o despertar da Turquia, se apressaram a aconselhar. Pelo Tratado de Lausanne, firmado em 24 de Julho de 1923, os turcos recuperaram suas fronteiras de 1914 na Europa e também a região de Esmirna. Os estreitos voltaram a ser de plena soberania otomana, o que reduziu as facilidades para a passagem de barcos estrangeiros através deles e as capitulações foram abolidas. Como conseqüência do sopro renovador que agitava o antigo Império Otomano, o Sultão Mehmed VI (1861-1926) foi deposto em 1922 e, no ano seguinte, uma assembléia aclamou presidente o Paxá Mustafa Kemal (mais tarde conhecido como Kemal Atatürk, (1881-1938), o construtor da Turquia moderna.

Desta forma, o Tratado de Lausanne, forjado pela vitória militar de um país derrotado em 1918, apontava o caminho às nações que pretendessem uma revisão das imposições que haviam sofrido.

Logo após o abandono da Sociedade das Nações (que já se ressentia da ausência dos Estados Unidos, URSS e Brasil) pelo Japão, foi a vez da Alemanha retirar-se. Anunciando a saída da representação germânica, Hitler declarou que o não desarmamento das outras nações obrigava a Alemanha àquela forma de protesto. Embora na realidade ele simplesmente desejasse furtar-se às peias que a Sociedade das Nações poderia opor à sua política militarista, o Führer teve o cuidado de reiterar os propósitos pacifistas de seu governo. Aliás, nos anos seguintes, Hitler proclamaria suas intenções conciliatórias em várias oportunidades, como meio de acobertar objetivos expansionistas.

O nazismo fortalecia-se rapidamente na Alemanha. Hitler precisava do apoio de Reichswehr para realizar o rearmamento alemão, mas a maioria dos generais mantivera-se até então numa atitude de expectativa em relação ao novo governo. A pretensão das tropas SA, manifestada por seus chefes em múltiplas ocasiões, de se transformarem em exército nacional, horrorizava os militares profissionais, educados na Escola von Seeckt. Parecia-lhes um absurdo entregar aquela pequena, mas eficientíssima máquina, que era Reichswehr, nas mãos dos turbulentos "camisas pardas", acostumados apenas a combates de rua. Hitler inclinava-se a dar razão aos generais, o que vinha contra os interesses dos SA mais radicais. Em alguns círculos da milícia nazista, já se falava na necessidade de uma segunda revolução que restituísse ao Partido o ímpeto inicial.

As execuções sumárias levadas a cabo na noite de 29 para 30 de Junho de 1934, realizadas por ordem expressa do Führer, passaram à História com o nome de Noite das Facas Longas. Quase todos os lideres das SA, a começar por seu chefe, o Capitão Ernst Röhm, foram passados pelas armas, juntamente com alguns políticos oposicionistas e o General von Schleicher (Kurt, 1882-1934), que era o maior opositor a Hitler no seio da Reichswehr. Nenhuma consideração emocional afetou essa brutal decisão de Hitler, que provocou a morte de algumas centenas de pessoas, muitas das quais eram fiéis do Partido, desde longa data.

Com essas execuções, o Führer atingiu um duplo objetivo: extinguiu os gérmens da rebelião entre os SA, desde então reduzidos a um papel meramente decorativo, e deu aos generais uma sangrenta garantia de que pretendia conservá-los na direção da Reichswehr. O expurgo fora levado a cabo pelas SS, tropas de elite do Partido, ligadas a Hitler por um juramento especial. Esse corpo de homens selecionados, formando uma verdadeira guarda do regime, iniciou naquele dia a ascensão que iria levá-lo, sob a chefia de Heinrich Himmler, ao controle total da vida alemã, em nome de Hitler. Em 1945, quase um milhão de homens tinha envergado o uniforme negro com a insígnia da caveira, partindo de um núcleo que em 1929 contava com apenas 280 elementos.

A Noite das Facas Longas fez a Reichswehr cerrar fileiras em torno de Hitler, que, reforçado por tal sustentáculo, pode então se dedicar a seus planos longamente acalentados.

A primeira tentativa expansionista do III Reich fracassou. Desde sua ascensão ao poder, Hitler vinha incentivando o desenvolvimento de um partido nazista austríaco, como base para uma posterior anexação da Áustria à Alemanha. Nessa época, os austríacos estavam sob o governo ditatorial do chanceler católico Engelbert Dollfuss, inquebrantável defensor da independência de seu país. Em 27 de Julho de 1934, Dollfuss foi assassinado em Viena, por um grupo de nazistas sublevados. Mussolini, temendo que os alemães ocupassem a Áustria, enviou tropas para a fronteira, enquanto a Europa era sacudida por um frêmito de indignação contra a Alemanha. Hitler, porém, recuou, negando qualquer conivência com os conspiradores austríacos. Dollfuss foi sucedido por von Schuschnigg (Kurt Edler, n. 1897), que continuou a política conservadora e nacionalista de seu antecessor.

Reincorporação do Sarre e criação de uma "Luftwaffe"

Em 13 de janeiro de 1935, o nazismo obteve seu primeiro sucesso internacional. O Sarre era um antigo território alemão que tivera suas jazidas exploradas pelos franceses, durante 15 anos, como parte das reparações de guerra estabelecidas pelo Tratado de Versalhes. Agora, um plebiscito junto à população decidia, por maioria esmagadora, a reincorporação do Sarre ao Reich. Logo em seguida, em março, Hitler abalava a Europa com duas declarações retumbantes: No dia 9, anunciou a criação da Luftwaffe (Força Aérea) e, no dia 16, o restabelecimento do serviço militar obrigatório, elevando imediatamente os efetivos de Wehrmacht (Força de Defesa, novo nome das forças armadas alemãs), de 100.000 para 500.000 homens. Ambas as declarações foram feitas em sábados, para que seu impacto internacional fosse amortecido pelos feriados dos fins-de-semana.

As potências, alarmadas com o rearmamento germânico, decidiram, na Conferência de Stresa (abril de 1935), formar uma frente anti-alemã, condenando o repúdio unilateral de qualquer tratado de fronteiras na Europa e garantindo a independência da Áustria. Observe-se, porém, que a declaração de Stresa, subscrita pela Grã-Bretanha, França e Itália, não proibia a alteração de fronteiras fora da Europa. Mussolini já pensava na conquista da Etiópia ...

Em represália às decisões de Stresa, Hitler denunciou, em 21 de maio de 1935, todas as cláusulas militares do Tratado de Versalhes. Manifestando, como sempre, seus objetivos pacíficos, o Führer restituía à Alemanha a liberdade de ação no campo dos armamentos.

O governo inglês, preocupado com um possível desenvolvimento da marinha de guerra germânica, iniciou negociações secretas com os alemães, sem qualquer consulta à França. Em 18 de junho de 1935, a Europa soube, estarrecida, que Londres permitia aos nazistas a construção de uma frota de alto-mar, equivalente a 1/3 da marinha britânica, com uma proporção ainda maior de submarinos. Tal acordo equiparava a força naval alemã à francesa. A notícia provocou em Paris uma profunda irritação contra os ingleses, que haviam agido em função de seus interesses exclusivos e abandonado a França, diante de uma Alemanha cada vez mais poderosa. Ressentidos com os britânicos, os franceses procuraram então se aproximar da Itália, como um meio de barrar o caminho à Alemanha. O principal propugnador dessa nova orientação política da França foi o Primeiro-Ministro francês Pierre Laval.

Mussolini aceitou com entusiasmo a mão que a França lhe estendia, o que vinha servir seus planos imperialistas. O fascismo consolidara-se internamente, e a população italiana atingira um nível de prosperidade maternal até então jamais alcançado. Fiume fora definitivamente incorporada à Itália, mediante a concordância iugoslava. Satisfaziam-se assim as reivindicações nacionalistas italianas.

Entretanto, a própria psicologia do fascismo obrigava os dirigentes a estimularem constantemente o povo, conservando-o sempre excitado, a fim de manter o prestígio de Mussolini. O Duce queria evitar que a população italiana se habituasse à rotina, diminuindo o apoio ruidoso que lhe prestava e que afagava sua volúpia de poder. Devido a seu temperamento, era um líder que precisava de grandes gestos e de atos igualmente grandiosos, para alimentar sua enorme vaidade. Embora houvesse feito uma administração de incontestável valor na Itália, isso não lhe bastava. Sua concepção histórica impelia-o a imitar Júlio César, fazendo-o entrar, também, para a galeria dos grandes homens, sob o tríplice rótulo de administrador, estadista e conquistador.

Início da guerra na Europa

A 1 de Setembro de 1939, o exército alemão lançou uma forte ofensiva de surpresa contra a Polónia, com o principal objectivo de reconquistar seus territórios perdidos na Primeira Guerra Mundial e com o objetivo secundário de expandir o território alemão. As tropas alemãs conseguiram derrotar as tropas polacas em apenas um mês. A União Soviética tornou efetivo o acordo (Ribbentrop-Molotov) com a Alemanha nazi e ocupou a parte oriental da Polónia. A Grã-Bretanha e a França, responderam à ocupação declarando guerra à Alemanha, mas não entrando, porém, imediatamente em combate. A Itália, nesta fase, declarou-se "país neutro".

O plano de expansão do governo envolvia uma série de etapas. Em 1938, com o apoio de parte da população austríaca, o governo nazista anexou a Áustria, episódio conhecido como Anschluss.Em seguida, reivindicou a integração das minorias germânicas que habitavam os Sudetas (região montanhosa da Checoslováquia). Como esta não estava disposta a ceder, a guerra parecia iminente, foi então convocada uma conferência internacional em Munique. Na conferência de Munique, em setembro de 1938, ingleses e franceses, seguindo a política de apaziguamento, cederam à vontade de Hitler, concordando com a anexação dos Sudetos.

A guerra relâmpago

A 10 de Maio de 1940, o exército alemão lançou uma ofensiva, também de surpresa, contra os Países Baixos, dando início a Batalha da França. Os alemães visavam contornar as poderosas fortificações francesas da Linha Maginot, construídas anos antes na fronteira da França com a Alemanha. Com os britânicos e franceses julgando que se repetiria a guerra de trincheiras da Primeira Guerra Mundial, e graças à combinação de ofensivas de pára-quedistas com rápidas manobras de blindados em combinação com rápidos deslocamentos de infantaria motorizada (a chamada "guerra-relâmpago" - Blitzkrieg, em alemão), os alemães derrotaram sem grande dificuldade as forças franco-britânicas, destacadas para a defesa da França. Nesta fase, ocorre a famosa retirada das forças aliadas para a Inglaterra por Dunquerque. O Marechal Pétain assumiu então a chefia do governo em França, que ficou conhecido como o governo de Vichy, assinou um armistício com Adolf Hitler e começou a colaborar com os alemães.

A Setembro de 1940, após a tomada da França pelas forças alemãs, as tropas italianas destacadas na Líbia sob o comando do Marechal Graziani, uma vez livres da ameaça das forças francesas estacionadas na Tunísia iniciaram uma série de ofensivas contra o Egito, então colônia da Grã-Bretanha, com vista a dominar o canal de Suez e depois atingir as reservas petrolíferas do Iraque, também sob domínio britânico.

Os efetivos ingleses destacados no norte da África e que compunham o então designado XIII Corpo de Exército, comandado pelo General Wavell, após alguns reveses iniciais realizaram uma espetacular contra-ofensiva contra as forças italianas que, apesar de sua superioridade numérica foram empurradas por 1200 km de volta à Líbia, perdendo todos os territórios anteriormente conquistados. Esta derrota custou aos italianos a destruição de 10 divisões, a perda de 130.000 homens feitos prisioneiros, além de 390 tanques e 845 canhões.

Como a situação que surgia na África era crítica para as forças do Eixo, Adolf Hitler e o Oberkommando der Wehrmacht (OKW) decidiram enviar tropas alemãs a fim de não permitir a completa desagregação das forças italianas. Cria-se dessa forma em Janeiro de 1941 o Afrika Korps (Corpo Expedicionário Alemão na África), cujo comando foi passado ao então Leutenantgeneral (Tenente-General) Erwin Rommel, que posteriormente se tornaria uma figura legendária sob a alcunha de "A Raposa do Deserto". Foram enviadas a África duas divisões alemãs em auxílio aos Italianos, a 5a. Divisão Ligeira e a 15a. Divisão Panzer. Os Alemães, sob o hábil comando de Rommel, conseguiram reverter a iminente derrota italiana e empreenderam uma ofensiva esmagadora contra as forças britânicas enfraquecidas (muitos efetivos britânicos haviam sido desviados para a campanha da Grécia, então sob pressão do Eixo) empurrando-as de volta à fronteira egípcia. Após uma sucessão de batalhas memoráveis como El Agheila, El Mechili, Sollum, Gazala, Tobruk e Marsa Matruh os alemães e italianos são detidos por falta de combustível e provisões na linha fortificada de El Alamein, uma vez que o Mediterrâneo encontrava-se sob domínio da marinha britânica. Finalmente, a Outubro de 1942, após 4 meses de preparação os Britânicos contra-atacaram na Segunda Batalha de El Alamein, sob o comando do General Montgomery. Rechaçadas pelas bem supridas forças britânicas, as tropas ítalo-alemãs iniciaram um grande recuo de volta à Líbia de forma a encurtar suas linhas de suprimento e ocupar posições defensivas mais favoráveis. Entretanto, dias depois, a 8 de Novembro, as forças do Eixo recebem a notícia de que estão sendo cercadas pelo oeste por forças norte-americanas do 1o. Exército Aliado que haviam desembarcado em Marrocos através da Operação Tocha. Pelo leste, o 8o. Exército Britânico continua o seu avanço, empurrando as forças ítalo-alemãs para a Tunísia. Finalmente, cercado pelos exércitos americano e britânico e sem a guia de seu audacioso comandante, pois Rommel havia sido hospitalizado na Alemanha, o "Afrika Korps" e o restante do contingente italiano na África do Norte, totalizando mais de 250 mil homens e reduzidos à inatividade pela falta de suprimentos e de apoio aéreo, se rendem aos aliados na Tunísia em maio de 1943, dando fim à guerra na África.

Em 22 de Junho de 1941, os exércitos do eixo lançaram-se à conquista do território soviético, com a chamada Operação Barbarossa. Os exércitos do eixo contavam com 180 divisões, entre tropas alemãs, italianas, húngaras, romenas e finlandesas, num total de mais de três milhões e meio de soldados. A estes se opunham 320 divisões soviéticas, num total de mais de seis milhões de homens; porém apenas 160 destas divisões estavam situadas na região de fronteira com a Alemanha Nazi. Grande parte das tropas soviéticas estavam estacionadas na região leste do país, na fronteira com a China ocupada, antecipando a possibilidade de mais um ataque japonês contra a União Soviética, conforme acontecera em março de 1939.

A ofensiva era amplamente esperada, pois a invasão da União Soviética fazia parte do discurso nazista desde o surgimento do partido, tendo sido fortemente pregada por Adolf Hitler em seu livro "Mein Kampf" e estado presente em diversos de seus pronunciamentos políticos anteriores até mesmo ao início da guerra. Relatórios de serviços secretos davam conta da iminência da invasão, partindo não somente da espionagem soviética mas também de informações obtidas pelos ingleses e norte-americanos. A mobilização de grande número de tropas alemãs para a região de fronteira também foi percebida. Os soviéticos já vinham tomando medidas contra a invasão desde a década de 30, aumentando exponencialmente o contingente de seu exército.

Apesar de tudo isto, a invasão começa a 22 de junho de 1941 veio como uma surpresa, pois não se esperava que a Alemanha atacasse a URSS antes que a Inglaterra se retirasse da guerra, conforme se previa. O resultado disto foi uma enorme vantagem tática para as tropas alemãs nos primeiros dias da guerra, o que permitiu o envolvimento de grande número de divisões do exército vermelho e a destruição de grande parte dos aviões soviéticos ainda nas suas bases, antes mesmo que conseguissem levantar vôo.

As tropas do eixo foram divididas em três grupos de exércitos: norte, central e sul. O grupo norte atravessou os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) e marchou contra Leningrado , que foi atacada ao mesmo tempo pelos finlandeses, mais ao norte. A cidade foi completamente cercada a 8 de setembro de 1941; a partir de então só foi possível abastecê-la pela rota que atravessava o lago Ladoga, constantemente vigiada pelos aviões alemães. O resultado foi uma grave crise de fome, que segundo as estimativas teria vitimado por volta de um milhão de civis. A partir de 20 de novembro de 1941, foi possível estabelecer uma rota segura para Leningrado através do lago congelado, devido à recaptura do eixo ferroviário na cidade de Tikhvin, o que permitiu a evacuação de civis, melhorando a situação da cidade. O cerco de Leningrado só foi completamente levantado em Janeiro de 1944.

O exército central foi o que progrediu mais rapidamente, tendo conquistado completamente a cidade de Minsk a 29 de junho de 1941, operação que resultou na captura de 420 mil soldados do exército vermelho. A ofensiva prosseguiu com o grupo central marchando através da Bielorússia até atingir a cidade de Smolensk, penetrando finalmente no território da Rússia propriamente dita. Aqui o avanço das tropas alemãs foi interrompido pela primeira vez, dada a forte resistência oposta pelas tropas soviéticas, porém a cidade foi conquistada a 16 de julho.

O exército sul prosseguiu mais vagarosamente do que os outros dois, sendo forçado a combater no terreno dos pântanos Pripet, o que reduzia a velocidade dos avanços. Apesar disso, conseguiu empurrar o grupo sul do exército vermelho até a cidade de Kiev, onde seu avanço foi interrompido. Aproveitando-se do fato de que o exército central havia avançado muito mais adiante, os alemães deslocaram boa parte desse segundo grupo de exércitos para o sul, conseguindo assim envolver um enorme grupo de divisões no que ficou conhecido como o bolsão de Kiev. O resultado foi a captura de 700 mil soldados soviéticos, o que resultou praticamente na destruição do grupo sul do exército vermelho. A luta pela captura da capital da Ucrânia prosseguiu até 26 de setembro.

Após esta operação, o grupo sul do exército lançou-se à captura da península da Criméia. Esta operação seria concluída a 30 de outubro, com o cerco da cidade de Sebastopol que, no entanto, só foi capturada em Julho de 1942. A cidade de Odessa, sitiada por tropas romenas desde os primeiros dias da guerra, só foi tomada em setembro. Após capturar o território da Criméia, os alemães voltaram-se para o Cáucaso, chegando a tomar Rostov a 21 de novembro. Entretanto, a cidade foi retomada pelos soviéticos poucos dias depois, a 27 de novembro.

As tropas do exército central uniram-se a várias unidades do grupo norte e iniciaram a operação que tinha por objetivo envolver a cidade de Moscou, a 30 de setembro de 1941. Inicialmente as tropas do eixo prosseguiram com velocidade, capturando Bryansk, Orel e Vyazma, numa batalha em que foram cercados e capturados 650.000 homens, no que seria o último grande envolvimento em 1941. As tropas alemãs continuaram avançando até capturarem a cidade de Tula, a 165 quilômetros da capital russa, que passou a sofrer bombardeamentos aéreos. Entretanto, o avanço do exército alemão foi barrado, e as pinças norte e sul do ataque não puderam se encontrar, fechando o cerco. Apesar das gigantescas perdas que o exército vermelho havia sofrido, os soviéticos conseguiram formar novas divisões de conscritos, trazendo também para a frente oeste tropas anteriormente localizadas na região leste do país, repondo suas perdas e conseguindo dar combate aos alemães.

No dia 6 de dezembro, em pleno inverno, começou a contra-ofensiva dos russos, chefiada pelo general Georgy Zhukov. Utilizando equipamentos novos como os tanques T-34 e os morteiros foguetes Katyusha, o exército vermelho conseguiu retomar uma quantidade significativa de território, afastando definitivamente a ameaça que pairava sobre sua capital.

Em 1942, o exército alemão já não se encontrava em condições de tentar uma nova ofensiva contra Moscou, que também seria demasiadamente previsível. A Wehrmacht voltou-se então contra a região do Cáucaso, de grande importância econômica e militar devido a seus recursos petrolíferos (reservas de petróleo soviéticas no Mar Cáspio, industriais e agrícolas. Além disso, a conquista da região permitiria bloquear o rio Volga. A operação de captura do Cáucaso foi chamada de operação Azul e teve início em 28 de junho de 1942. No final do mês de julho os alemães já haviam avançado até a linha do rio Don e começaram os preparativos para o envolvimento da cidade de Stalingrado, defendida pelas tropas do General Chuikov. A cidade sofreu pesados bombardeamentos aéreos.

No fim de Agosto, a cidade foi cercada ao norte e no 1.º de setembro as comunicações ao sul também foram interrompidas. A partir de então, as tropas que combatiam na cidade só puderam ser abastecidas através do rio Volga, constantemente bombardeado pelos alemães. A batalha pela cidade durou três meses, conhecendo avanços e recuos de ambas as partes, com lutas sangrentas pela conquista de simples casas, prédios ou fábricas. O tipo de terreno resultante das ruínas da cidade arrasada favorecia o combate de infantaria, impedindo a utilização eficiente de tanques. Milhares de civis aprisionados no interior da cidade foram vitimados, principalmente em conseqüência dos bombardeamentos. Em novembro, os alemães haviam alcançado a margem do rio Volga, impedindo o abastecimento das tropas soviéticas.

Em novembro de 1942, os soviéticos iniciaram seu contra-ataque, batizado de Operação Urano, que tinha o objetivo de envolver as divisões alemãs em Stalingrado. Em 19 de novembro, as tropas do general Vatutin, que formavam a pinça norte do ataque, irromperam contra o flanco dos exércitos do Eixo, enquanto ao sul as tropas de Rokossovsky faziam o mesmo. Os alemães foram cercados pelo Exército Vermelho e as tentativas de abastecê-los através de uma ponta aérea não tiveram sucesso. Uma tentativa de romper o cerco foi feita pelas tropas do General Manstein, numa operação chamada de Tempestade de Inverno, porém as tropas cercadas no interior da cidade já estavam sem abastecimento há um bom tempo e não tiveram condições de colaborar com as demais tropas alemãs. Os soviéticos continuavam seu contra-ataque (agora a Operação Saturno), ameaçando envolver os exércitos de Manstein, que foi forçado a abandonar sua tentativa de salvamento e retirar-se. A 2 de fevereiro de 1943, os alemães remanescentes na cidade rendem-se. Mais de 800 mil soldados do eixo, entre alemães, húngaros, romenos e italianos, além de dois milhões de soviéticos, morreram nas operações que envolveram Stalingrado e todo o restante do 6º Exército alemão, comandado pelo Generalfieldmarschall (Marechal-de-Campo)Friedrich Von Paulus, que obedeceu até o fim as ordens de Hitler de não romper o cerco, sendo feito prisioneiro junto com o seu exército. A batalha de Stalingrado dura cinco meses. Dos trezentos mil soldados alemães encurralados no cerco, noventa mil morrem de frio e fome e mais de cem mil são mortos nas três semanas anteriores à rendição. Devido às rigorosas dificuldades do inverno nesse ano, que dificultava a subsistência até da população local, um grande número dos soldados alemães, sem proteção contra o frio nos campos de prisioneiros, não sobreviveu, sendo que poucos retornaram a sua terra natal após a guerra. Após a tomada de Stalingrado, as tropas soviéticas continuaram avançando e em fevereiro de 1943 retomaram Kursk, Kharkov e Rostov, retomando completamente a região do Cáucaso. A 20 de fevereiro, os alemães retomaram Kharkov, formando uma saliência no front soviético em Kursk, o que teria importantes conseqüências nos meses seguintes.

Os generais alemães e o próprio Hitler, após a queda de Stalingrado, tinham noção que esse quadro de desestabilização geral estava ocorrendo, e começaram a planejar medidas para reduzir seus efeitos. Muitos oficiais preferiam esperar uma ofensiva soviética e contra-atacar – a “ação de retaguarda” proposta por Manstein – buscando paralisar os russos com contra-ataques locais; outros militares defendiam que uma ofensiva deveria ser desfechada o quanto antes para incapacitar os soviéticos e depois esperar pelos ataques dos aliados ocidentais. Essa tática acabou sendo a escolhida por Hitler, resultando na “Operação Cidadela”, cognome do ataque contra a cidade de Kursk, onde estavam concentradas grandes forças russas que deveriam ser cercadas e destruídas. Foi uma operação perdida desde o início para os alemães, pois os soviéticos tinham superioridade em artilharia, tanques, homens e aviões, o que talvez não fizesse tanta diferença se também não tivessem as informações sobre os planos de ataque alemães – obtidas através da rede de espiões comunistas “Orquestra Vermelha” na Alemanha – e contassem com defesas em profundidade largamente preparadas na região. A culminância dessa malfadada operação foi a Batalha de Kursk, em julho de 1943, onde os alemães sofreram uma grande derrota e foram recuando até saírem da URSS e as forças soviéticas avançando em direção à Alemanha.

Embora o significado das batalhas entre Alemanha e URSS tenha sido enormemente relativizado no mundo capitalista pós-guerra, por conta de questões ideológicas próprias da Guerra Fria (quando não era mais conveniente ressaltar qualidades positivas do antigo aliado soviético...), o chamado fronte oriental foi onde aconteceram as mais ferozes batalhas, com as maiores perdas civis e militares da história, e mostrou excepcionais tenacidade e capacidade de reorganização e aprendizado do Exército Vermelho frente à Wehrmacht. Apesar de imensas perdas humanas e matérias, a URSS foi a única nação da guerra a ser invadida territorialmente pela Werhmacht (então o maior, melhor treinado, mais bem equipado, e mais eficiente exército do mundo, cujos vários feitos em eficiência e versatilidade em campo permanecem inigualados até hoje) a ser capaz de se reorganizar, e, sem rendição ou acordos colaboracionistas (como o do “Governo de Vichy”, na França), resistir, combater, e efetivamente rechaçar as forças alemãs para fora de seu território sem tropas externas atuando em seu território (como na recuperação da França, por exemplo, precisou da ajuda maciça de tropas americanas e britânicas), e, mais importante, seguir um curso de vitórias até a capital da Alemanha - terminando, na prática, a guerra: poucos dias depois do suicídio de Hitler na Berlim já completamente ocupada pelo Exército Vermelho, as forças alemãs assinaram sua rendição incondicional.

A partir de 1943, os exércitos aliados foram recuperando território passo a passo. Os soviéticos obrigaram os alemães a retroceder e os norte-americanos ocuparam parte da Itália.

A 6 Junho de 1944, no chamado Dia D (D-Day), os Aliados efectuaram um desembarque nas praias da Normandia (Operação Overlord), em que participaram o Exército Britânico (lutando nas praias de Gold e Sword), o Exército Americano (lutando em Omaha e Utah) e o Exército Canadense (lutando em Juno). Os americanos sofreram por volta de duas mil baixas, pois os tanques Sherman, (disfarçados de Chatas pelo Exército Americano para os esconder, e torná-los um fator surpresa) afundaram. Já o Exército britânico não teve muitas baixas em Gold e Sword, pois seus tanques blindados e especializados (em cortar trincheiras e explodir minas) conseguiram ultrapassar. Era o início da Batalha da Normandia. A Wehrmacht, não conseguiu responder ao ataque devidamente, pois o comandante da área (à época, General Erwin Rommel) não estava presente, pois seu carro havia sido bombardeado durante uma viagem à Alemanha e, encontrava-se internado num hospital da Luftwaffe.

A juntar a este facto, a Wehrmacht era naquela zona principalmente constituída por homens recrutados à força, em países invadidos pelos alemães. Especula-se também que, à hora da invasão, Hitler estaria a dormir, e nenhum dos seus subalternos se atreveu a acordá-lo, ou a dar ordem para que as divisões blindadas estacionadas no interior se dirigissem para a costa, a fim de deter a invasão. Outro factor que também atrasou a movimentação das divisões blindadas para a zona costeira foi a sabotagem, principalmente dos caminhos de ferro, por parte da resistência francesa. Na madrugada do dia 6, antes do desembarque, pára-quedistas haviam já saltado atrás das linhas alemãs, embora de forma desorganizada, tendo por isso a maioria destes falhado os locais de aterragem. O objectivo destes pára-quedistas era neutralizar as peças de artilharia alemãs colocadas no interior, que naturalmente iriam bombardear as tropas aliadas assim que estas chegassem às praias.

Após o desembarque na Normandia, seguiu-se a operação Market Garden em Setembro de 1944, que tinha como um dos objectivos libertar os Países Baixos. Esta operação foi superior à Overlord no que respeita ao número de soldados envolvidos (apenas pára-quedistas), mas resultou num enorme fracasso, contando-se cerca de 20 mil mortos, só entre os americanos, e 6500 britânicos foram feitos prisioneiros. O objectivo dos Aliados era conquistar uma série de pontes nos Países Baixos, o que lhes permitiria atravessar o rio Reno.

A guerra no Pacífico

Pilotos kamikaze japoneses levaram a cabo corajosas missões suicidas contra os navios de guerra inimigos - em especial à armada dos Estados Unidos - inspirados pelas ideias do xintoísmo nacional. Estas missões suicidas levadas a cabo eram muito eficazes.

Pilotos kamikaze japoneses levaram a cabo corajosas missões suicidas contra os navios de guerra inimigos - em especial à armada dos Estados Unidos - inspirados pelas ideias do xintoísmo nacional. Estas missões suicidas levadas a cabo eram muito eficazes.

Por volta de 1940, o Japão, tinha já ocupado vários territórios no Pacífico, e tentava agora aumentar a sua influência no Sudoeste Asiático e no Pacífico.

Em Junho de 1941, o Japão, invade a Indochina. O governo dos Estados Unidos da América, indignado, impõe sanções económicas ao Japão. Como represália, a 7 de Dezembro de 1941, a aviação japonesa atacou Pearl Harbor, a maior base norte-americana do Pacífico. Em apenas duas horas, os pilotos japoneses conseguiram inutilizar todos os navios ancorados no porto, cinco navios de guerra e outros 15 foram afundados ou destruidos.

No dia seguinte os EUA declaram guerra ao Japão, dando início à guerra do Pacífico.

Apenas duas horas após o ataque que deu início oficial à guerra do Pacífico, o ataque a Pearl Harbor, os japoneses iniciaram a invasão de vários territórios da Ásia e do Pacífico. Em Abril de 1942, o Japão, tinha já conquistado esses vastos territórios; controlando Hong Kong, a Malásia, Singapura — a qual a Grã-Bretanha abandonou a 15 de Fevereiro de 1942, a Indonésia, as Filipinas, a Birmânia e outras ilhas no Pacífico.

O sucesso dos japoneses, devia-se à utilização de um pequeno número de tropas, mas altamente treinadas e protegidas por uma força aérea. Todos os seus conflitos durante a Campanha do Sul foram combatidas por algumas divisões apenas, praticamente sem tanques ou armas sofisticadas.

Já em 1944 a guerra na Ásia começava a progredir devagar, já não mantendo o ritmo inicial da guerra. Em Março de 1944, as forças japonesas ocuparam a Birmânia e deram início a um ataque contra a Índia, mas acabaram por ser derrotadas em Impanhal. No Norte da China, as forças japonesas, começaram a enfrentar as forças comunistas de Mao Zedong. A Guerra Sino-Japonesa, que mobilizava mais de um milhão de homens, gastava mais recursos que a Campanha do Sul. Em 1944, depois de lançada a última ofensiva em Ichi Go, o Império japonês, tomou grande parte do Sul da China Central, estabelecendo uma ligação terrestre com a Indochina.

A quando a vitória japonesa na China, as forças Aliadas do Pacífico haviam chegado perto do arquipélago nipónico. Em 1945, a captura das ilhas de Iwo Jima (em Fevereiro) e Okinawa (em Abril), pelos Aliados, trouxeram o Japão para dentro do alcance de ataques aéreos e navais, começando assim os bombardeamentos a fábricas e instalações militares na ilha principal. Esses bombardeamentos, executados por bombardeiros norte-americanos B-29 entre Março e Junho, acabaram por destruir 58 cidades japonesas, matando mais de 393 000 civis.

Em inícios de Agosto o Imperador Hirohito, verificando as elevadas perdas nos últimos conflitos, autorizou que o embaixador japonês na União Soviética contactasse Estaline para apresentar uma rendição do Japão. Estaline recebeu a mensagem algumas horas antes da conferência dos Aliados na Alemanha, apresentando assim a rendição japonesa a Harry Truman. Os Aliados pediam ao Japão uma rendição incondicional, contudo o Japão decidiu não responder devido aos termos de rendição dos Aliados não especificarem o futuro do Imperador — visto como um deus para o povo japonês — tal como o sistema imperial. Harry Truman, após a sua chegada à conferência, recebeu uma mensagem que indicava que o teste da bomba atómica "Trinity" tinha sido bem sucedido; decidido a ganhar a guerra utilizando o projecto Manhattan deu indicações a Estaline para ignorar a mensagem japonesa e Estaline também com a idéia de ganhar territórios no Pacífico, ilhas conquistadas pelo Japão, concordou com Truman.

A 6 de Agosto, a bomba atómica "Little Boy", foi lançada sobre Hiroshima do B-29 "Enola Gay", pelo "esquadrão Atómico", contudo esta bomba não teve o efeito esperado, não tendo qualquer reacção no Imperador Hirohito e do Gabinete de Guerra japonês. Muito do povo japonês desconhecia ainda o ataque a Hiroshima, pois as estações de rádio e jornais não relataram nada sobre o ataque, apenas sobre um novo tipo de bomba desenvolvido.

Embora estivesse sendo comandado por uma ditadura de direita (o Estado novo getulista), o Brasil acabou participando da Guerra, junto aos Aliados (junto às nações democráticas). O motivo foi que em Fevereiro de 1942, submarinos supostamente alemães iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no oceano Atlântico. Em apenas cinco dias, seis navios foram a pique.

Durante 239 dias, entre Setembro de 1944 e Maio de 1945, 25445 soldados e oficiais brasileiros combateram na Itália. Tais confrontos resultaram em 456 mortos e 2722 feridos. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) capturou 14779 soldados inimigos, oitenta canhões, 1500 viaturas e 4 mil cavalos, saindo vitoriosa em oito batalhas.

A participação do Brasil na guerra contribuiu para o fim do regime do Estado Novo, já que não fazia sentido um país combater dois regimes ditatoriais e viver sob um, como foi denunciado pelo Manifesto dos Mineiros de 1943.

Em troca do apoio brasileiro, Roosevelt financiou a construção de uma gigantesca siderúrgica, a CSN (Compania Siderúrgica Nacional), para incentivar a economia brasileira e fornecer aço à frente aliada (porém o término da siderúrgica só aconteceu em 1946). Além disso, foi instalada uma base militar no Rio Grande do Norte, encarregada de treinamento militar e produção de armamentos. Essa base, de tão importante que foi para o sucesso no desembarque na Normândia, foi apelidada na época de "Trampolim da Vitória", devido ao grande "salto" que ela proporcionou para a frente aliada.

Por mais que, comparada a atuação de potências como a URSS, os EUA e a Inglaterra, a atuação do Brasil tenha sido pequena, devemos considerar o enorme auxílio da FEB, da produção de aço e do "trampolim da vitória", que foram de grande importância no resultado geral.

Portugal na Guerra

Durante a Segunda Grande Guerra, Portugal era governado sobre uma ditadura de direita, designada por Estado Novo e chefiado por Salazar. Oficialmente Portugal declarou em 1939 a neutralidade, apesar da Aliança Luso-Britânica de 1373, sendo mantido o estado de neutralidade até ao final das hostilidades.

O Estado Português, em Março de 1939, assina um Tratado de Amizade e Não Agressão com a Espanha nacionalista, representada pela Junta de Burgos e pelo Nuevo Estado dirigido por Franco, recusando o convite do embaixador italiano, em Abril do mesmo ano, para aderir ao Pacto Anti-Komintern, aliança da Alemanha, Itália e Japão contra a ameaça comunista.

Em Agosto de 1939, a Grã-Bretanha assina um acordo de cooperação militar com Portugal, aceitando apoiar directamente o esforço de rearmamento e modernização das forças armadas portuguesas. Todavia, o acordo só começará a ser cumprido a partir de Setembro de 1943.

O embaixador Aristides de Sousa Mendes em França (1939-1940) ajudou dezenas de milhares de refugiados, nomeadamente judeus a fugir via Lisboa, para os Estados Unidos, emitindo vistos à revelia do Governo de Salazar. Após a queda da França em Julho de 1940, foi detido em Lisboa, e proibido de exercer Advocacia, nunca foi perdoado por Salazar. Em 1966, Israel dá-lhe o título de "Justo entre as nações". Após a revolução de Abril foi-lhe atribuída a título póstumo a Ordem da Liberdade em 1987, e a Cruz de Mérito em 1998.

No dia 29 de Junho de 1940, Espanha e Portugal assinam um protocolo adicional ao Tratado de Amizade e Não Agressão.

Em 1941, o Japão invade Timor-Leste, e ocupa as ilhas de Lapa, São João e Montanha pertencentes à República da China e divide a administração com o Governo Português de Macau. Macau chegaria a ser bombardeado pelos aliados (Estados Unidos da América). As ilhas voltariam após o fim da guerra à soberania chinesa.

Com o virar da guerra, Portugal assina um Acordo Luso-Britânico, em Agosto de 1943, concedendo à Grã-Bretanha, a base das Lajes nos Açores, e em 1944 aos Estados Unidos até actualmente.

Comercialmente, Portugal exportava produtos para os países em conflito, como açúcar, tabaco, e tungsténio. O tungsténio cujo preço subiu em flecha desde o início das exportações, sendo que para a Alemanha, a exportação foi interrompida em 1944 por imposição dos Aliados. Até ao final da guerra as exportações para a Alemanha foram pagas com ouro canalizado via Suiça.

Com o final da guerra, o governo de Salazar decretou luto oficial de três dias pela morte de Hitler aquando da sua morte, em 1945. Salazar iniciou então uma série de reformas políticas de fachada após a derrota das ditaduras, para se manter no poder.

Tecnologias

A tecnologia bélica evoluiu rapidamente durante a Segunda Guerra Mundial e foi crucial para determinar o rumo da guerra. Algumas das principais tecnologias foram usadas pela primeira vez, como as bomba nucleares, radar, fuzil mais rápido, misséis balísticos, e processadores analógicos de dados (computadores primitivos). Enormes avanços foram feitos em aeronaves, navios, submarinos e tanques. Muitos dos modelos usados no início da guerra se tornaram obsoletos quando a guerra acabou. Um novo tipo de navio foi adicionado aos avanços: navio de desembarque anfíbio (usado no Dia D).

Consequências da Segunda Guerra Mundial

Materiais

Os Aliados determinaram pagamentos de guerra às nações derrotadas para a reconstrução e indemnização dos países vencedores, assinado no Tratado de Paz de Paris. A Hungria, Finlândia e Romênia foi ordenado o pagamento de 300 milhões de dólares (valor baseado no valor do dólar em 1938) para a União Soviética. A Itália foi obrigada a pagar o correspondente a 360 milhões de dólares de indemnizações cobrado pela Grécia, Iugoslávia e União Soviética. No fim da guerra cerca de 70% da infra-estrutura européia estava destruída. Os países membros do Eixo tiveram que indemnizar os países Aliados em mais de 2 bilhões de dólares.

Com a derrota do Eixo, a Alemanha teve todos os recursos financeiros e materiais transferidos para os Estados Unidos e a União Soviética, além de ter todas as indústrias desmanteladas para evitar um novo rearmamento como forma de vingança.

Segunda Guerra Mundial


Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Soldados soviéticos penduram uma bandeira soviética no Reichstag em Berlim, os portões do campo de concentração nazista de Auschwitz, o Congresso Nazista de Nuremberg em 1936, bombardeamento nuclear de Nagasaki, desembarque aliado nas praias da Normandia no Dia D.

Data:
1º de Setembro de 19392 de Setembro de 1945

Local:
Europa, Oceano Atlântico, África, Médio Oriente, Sueste asiático e Oceano Pacífico

Desfecho:
Vitória Aliada. Criação de duas superpotências: Estados Unidos e União Soviética iniciando-se a Guerra Fria.

Intervenientes

Aliados:
Reino Unido
Estados Unidos
França
União Soviética
Canadá
Polônia
China
Brasil
e outros
Eixo:
Alemanha
Itália
Japão
e outros

Principais líderes

Joseph Stalin
Franklin Roosevelt
Chiang Kai-shek
Winston Churchill
Charles de Gaulle
Mackenzie King
Adolf Hitler
Benito Mussolini
Hideki Tojo

Vítimas

Mortes militares: 17 milhões
Mortes civis: 33 milhões
Total: 50 milhões
Mortes militares: 8 milhões
Mortes civis: 4 milhões
Total: 12 milhões